Ética e Liderança Cristã: maio 2018

sexta-feira, 18 de maio de 2018

'Enigma do trem' fará você questionar a racionalidade de suas decisões


O dilema do trem questiona os valores de nossas decisões

A situação é a complicada: um trem avança sem freios e está prestes a atropelar cinco pessoas que estão sobre a linha férrea. Você está ao lado da estrada, em frente a uma alavanca que, caso seja puxada, consegue desviar o trajeto da composição. No entanto, se você acionar o equipamento, o trem vai atropelar outra pessoa na linha ao lado.
Você tem dez segundos para tomar uma decisão. Se não fizer nada, cinco pessoas morrem. Se você puxar a alavanca, elas serão salvas, mas, como consequência, outra pessoa vai morrer. O que fazer?
Esse experimento, conhecido como "o dilema do trem", é um cenário clássico entre filósofos e sociólogos - ele é usado para estudar o modo como tomamos decisões e para confrontar diferentes perspectivas sobre uma mesma situação.

Conflito ético
Por um lado, há quem acredite que o correto seria causar o menor dano possível, ou seja, a melhor opção seria puxar a alavanca para salvar mais vidas, mesmo que uma pessoa acabe morrendo.
Do outro lado, alguns argumentam que seria imoral intervir na situação, causando um dano que não ocorreria sem a interferência, mesmo que as intenções sejam boas.
A espiral de perguntas poderia ser infinita: salvar cinco pessoas é melhor que salvar apenas uma? É correto salvar cinco pessoas, mas matar uma que não estava correndo risco? Quem escolheu não puxar a alavanca, mudaria de opinião se fossem 100 pessoas a morrer e não apenas cinco?


Segundo pesquisadores, nossa opinião sobre o dilema muda quando deparamos com ele na prática

Na prática
"Esse dilema é sobre o bem-estar do indivíduo em contraponto ao bem-estar de um grupo", diz o sociólogo Dries Bostyn, da Universidade de Gante, na Bélgica.
Bostyn liderou uma equipe de pesquisadores que tentou aplicar na prática o dilema hipotético. Eles usaram um caso diferente, mas que segue a mesma lógica.
Para seu experimento, Bostyn reuniu um grupo de 300 voluntários que se dispuseram a enfrentar o problema.
Ele perguntou para uma parte deles: em uma jaula há cinco ratos e em outra apenas um. Com uma contagem regressiva de 20 segundos, caso o voluntário não faça nada, os cinco ratos vão sofrer um choque elétrico que causará dor. Se antes do tempo acabar, a pessoa apertar um botão, apenas um rato, que está em outra jaula, levará o choque.
Segundo o sociólogo, 66% dos voluntários disseram que apertariam o botão para que o rato solitário recebesse o choque, o que evitaria que o grupo de cinco sofresse. Outros 34% disseram que não fariam nada e, consequentemente, os cinco ratos receberiam a descarga.


Para seu teste, Bostyn colocou cinco ratos em uma gaiola e um animal em outra; no meio, um botão que supostamente acionava um choque elétrico 

Depois, os pesquisadores colocaram outro grupo de voluntários diante da situação real. O resultado foi divergente. Eles ficaram diante da gaiola com cinco roedores e da outra, com apenas um.
Entre as caixas, havia o botão para aplicar o choque (na realidade, ele não produzia choque elétrico de fato, mas os participantes foram levados a acreditar que sim). O cronômetro começava a avançar e as pessoas tinham que decidir o que fazer, rapidamente.
Neste caso, 84% dos voluntários apertaram o botão para salvar os cinco ratos. Somente 16% não fizeram nada para evitar o possível efeito - resultado diferente de quando o teste é aplicado apenas na teoria.

Mudança
Para Bostyn, esse resultado sugere que "o que as pessoas pensam não corresponde ao o que elas fazem na prática".
Um dos resultados mais interessantes do teste, segundo os pesquisadores, foi o sentimento contraditório experimentado pelos participantes.
"Foi fascinante ver as pessoas que acharam ter tomado uma boa decisão e depois pediram desculpas por sua escolha', diz Bostyn. "É uma questão muito interessante para estudar no futuro."
O experimento de Bostyn ainda tem várias limitações, pois é difícil comparar a morte de um rato com a de um ser humano.
No futuro, o pesquisador pretende fazer um teste em que a mesma pessoa responde ao caso hipotético e, depois, é submetida à experiência real.

Voltando ao trem, você mudou de opinião?

Publicado originalmente em BBCBrasil

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Liderar a si mesmo para liderar os demais


Nelma Sá (*)

O dia a dia, dentro e fora do trabalho, exige uma tomada rápida e constante de uma enormidade de decisões

Vemos por todos os lados treinamentos focados em liderança, quase sempre com um viés focado no mundo dos negócios. Faz sentido, principalmente quando lembramos que no jargão corporativo, "líder" é a palavra que vem cada vez mais sendo usada no lugar de "chefe".
Mas um indivíduo não lidera apenas uma equipe. O dia a dia, dentro e fora do trabalho, exige uma tomada rápida e constante de uma enormidade de decisões. Portanto, mais do que pensar em que está à nossa volta, precisamos pensar em nós mesmos. Em outras palavras: temos que ser líderes de nossas próprias vidas para guiá-la pelos caminhos que nos permitam conquistar nossos sonhos e projetos.
Ao nos fortalecermos, aprimorarmos o autoconhecimento e embarcamos em uma jornada que leva de carona todos os outros em nosso redor. Nos tornamos, assim, pessoas melhores e líderes capazes de inspirar, motivar e encorajar qualquer time a buscar grandes resultados.
Há aquelas pessoas que acreditam que não nasceram para ser líderes, mas isso não existe. Esse tipo de pensamento nada mais é do que uma representação dos próprios medos. Todos nós nascemos com potenciais de liderança, a única diferença é que alguns indivíduos precisam de um impulso para desenvolvê-los.
Hoje temos à nossa disposição instrumentos que mapeiam as nossas potencialidades e respectivos desafios (aspectos a desenvolver). Esse é o primeiro passo para o desenvolvimento da liderança. Em seguida, é fundamental que experienciemos esses potenciais, de forma que possamos refletir e compreender o nosso padrão de funcionamento, que está inconsciente em nós. Essa é inclusive a ideia por trás da Jornada de Autoliderança, um programa da Todos os Cantos de viagens para o Brasil e para o exterior durante as quais exercitamos o nosso autoconhecimento em meio a longas caminhadas marcadas pela reflexão, pelo silêncio, pela contemplação.
Outro aspecto importante de ser ressaltado é que cada indivíduo desenvolve o seu potencial dentro do próprio ritmo, inexistindo um prazo pré-determinado para o alcance dos objetivos. Os resultados, porém, são evidentes em todas as pessoas. Desenvolver a autoliderança significa ampliar a capacidade de concretização, aprender a desenvolver e a gerir os desafios, fazer escolhas conscientes e alinhadas com os princípios e valores. A partir daí, vamos nos tornando donos de nossas próprias vidas, conectados com a liberdade e responsabilidade pelas escolhas.
É um processo que também nos permite respeitar nossa própria singularidade e, consequentemente, respeitar o outro na sua diversidade. E ainda abre a oportunidade para sermos verdadeiros conosco, reconhecendo em nós mesmos o "lugar interior" a partir do qual tomamos nossas escolhas e decisões.
Não importa se com isso vamos nos tornar grandes CEOs ou pais e mães de família. Uma vez desenvolvida a autoliderança, somos capazes de ditar o caminho de nossas próprias vidas. Caminhar rumo à felicidade e paz interior é o grande prêmio.

(*) Administradora de empresas, educadora, coach e vice-presidente da Unipaz São Paulo. A executiva já passou por esses desafios e hoje ajuda mulheres nessa transição.

Publicado originalmente em Administradores