Lições aprendidas com o planejamento estratégico
Lourenço Stelio Rega
Desde a juventude sempre atuei na gestão, seja de projetos, de organizações ou departamentos. Logo cedo aprendi que se algo precisa ser feito, é preciso investir em seu preparo. Minha primeira experiência nesta área foi quando, aos 17 anos, tive de assumir a direção de uma Escola Bíblica Dominical – com a antiga nomenclatura de superintendente da EBD. Descobri que tinha de prever as atividades que precisavam ocorrer de modo a ajustar a agenda dos eventos. Assim, sem saber os nomes corretos das “coisas” do planejamento, percebi que sem cronograma e previsão pouco poderia alcançar.
Depois notei que quem “tocava” a EBD, de fato, eram os professores, e desta forma descobri o sentido de equipe, mesmo sem saber que existia essa palavra. Aí procurei entender como o professor trabalhava. Descobri a Pedagogia e a Didática (gostei tanto que até hoje estou “embriagado” por isto no magistério teológico). Tentei encontrar alguém que pudesse “capacitar” (palavra inexistente naquela época no meio evangélico) os professores. Não achei ninguém. Mergulhei em livros educacionais e comecei a preparar textos para ajudá-los a exercer o seu papel. Na época não tinha xérox, então eu consegui um mimeógrafo a tinta manual, isto é, tinha de “bater” à máquina o estêncil, prender debaixo de uma tela, colocar tinta preta em cima da tela, colocar o papel sulfite embaixo e depois passar um “rodinho” para espalhar a tinta. Cada cópia era produzida artesanalmente. Como eu tinha trabalhado em gráfica como tipógrafo, aquilo era simples de fazer. Depois comprei um mimeógrafo a álcool, um dos primeiros de minha cidade.
Eu marcava (a palavra “agendar” era desconhecida) as reuniões com os professores antecipadamente, preparava tudo antes das reuniões e reconfirmava a sua presença alguns dias antes da reunião. Os resultados começaram a aparecer e o pessoal percebia que tudo estava funcionando e se sentia motivado a vir nas reuniões. Criamos também programas de recuperação a alunos desistentes, campanhas, eventos, etc.
As pessoas passaram a acreditar no meu trabalho e um efeito colateral disso tudo é que, se algo tinha de ser feito, eu era escolhido para liderar. Comecei a me sobrecarregar com tanta atividade que tive de aprender a gerir o meu tempo pessoal e descobri que o líder de equipe precisa antes ser líder de sua própria vida. No fundo trabalhava tanto para a obra de Deus que estava esquecendo do Deus da obra. Aí descobri que o líder, além de gerir a sua própria vida, precisa estabelecer prioridades para si mesmo, começando de seu relacionamento com Deus, consigo mesmo, com seu matrimônio, com sua família e depois, finalmente, com suas atividades. Nesta época eu já estava casado e com dois filhos.
Depois de quase 40 anos passados daquela minha primeira experiência de “gestor educacional” numa simples e pequena igreja onde era, na época, o interior de São Paulo, hoje já me vejo em fase de planejamento da aposentadoria. Posso dizer, no entanto, que ainda tenho fortes traços de personalidade “workahoolic” em meu sangue, tendo em vista a hipertenacidade que se tornou um estilo de vida. Um filho casado, dois no caminho, esposa que pode voltar a estudar, agora me transformaram em consultor de planejamento de suas vidas.
Tem sido gostoso e agradável olhar para trás e ver como Deus foi construindo tudo isto, especialmente quando estou em meu cantinho de sossego no alto das montanhas mineiras e vendo lá embaixo o vale e as montanhas ao longo do horizonte, sempre tendo em mente que tudo foi construído por Deus com detalhes de um planejamento minucioso e cuidadoso.
A verdade é que, toda tecnologia, vocabulário e ferramenta sobre planejamento, eu acabei adquirindo há cerca de 20 anos atrás, portanto, fazia planejamento estratégico sem saber que aquilo era isso mesmo. Se não tinha um recurso ou ferramenta para usar, pois os livros eram raros, eu ficava acordado até tarde ou acordava mais cedo para inventar, adaptar, datilografar (depois digitar), até mesmo porque era “pecado” usar livros seculares (“do mundo”) para o planejamento na igreja. Criei diversos inventários, um até para ajudar as pessoas a verem o seu nível de espiritualidade (imagine só isso, e feito na década de 80!), depois veio o inventário de dons (que já foi até publicado sem a citação de minha autoria) e tantas outras ferramentas.
O período, diríamos, técnico e científico sobre o planejamento em meu ministério veio antes de minha ida para pastorear na Ilha de Vitória, quando eu e o Ed René Kivitz ainda tínhamos tempo de “trocar figurinhas” sobre as descobertas em planejamento. Ele estava começando o seu pastoreio na IBAB, naquela época ainda na Rua Clélia. Foi uma época de grande aprendizagem juntos. Fui para Vitória e lá encontrei uma pessoa fenomenal em termos de amizade e de planejamento que me influenciou muito – Almir Cordeiro Júnior. Ele me ensinou a tecnologia do planejamento estratégico que uso até hoje e o famoso mapa conceitual das fases do planejamento estratégico.
Em resumo, Deus criou o mundo e para isto se valeu de um intrincado planejamento em que as coisas criadas vinham em sua devida hora. Depois de tudo pronto ele transferiu a Adão e Eva a gestão da natureza criada. Assim a primeira atividade humana foi o gerenciamento.
O planejamento estratégico nada mais é do que a reflexão antecipada sobre o que precisamos e desejamos fazer e a busca dos meios para alcançar isso, dentro de um prazo estabelecido. Sem o planejamento antecipado vamos depender de quem argumenta melhor, de quem tem mais poder ou de quem tem a chave do cofre (frase do Ed René).
Para elaborar o planejamento estratégico temos de seguir as suas fases. Antes de tudo será preciso estabelecer para nossa organização a sua natureza (razão de ser e missão), a sua filosofia (normas/doutrinas e valores/prioridades), avaliar o seu entorno em busca do público-alvo a ser atendido ou âmbito de atuação. Somente depois vem a visão de futuro que almejamos.
Na área empresarial a visão geralmente poderá vir antes de tudo, mas no campo eclesiástico, ela vem depois, pois a natureza e filosofia da igreja são pré-estabelecidas na Bíblia. Aí temos condições de estabelecer os objetivos que precisamos cumprir para alcançar o fim esperado. Dos objetivos estabelecemos as estratégias, depois as metas mensuráveis e as ações setoriais. Em seguida será preciso levantar os recursos necessários e a viabilidade financeira. Tudo ok até agora? Então se temos recursos, se os objetivos são viáveis para que a visão se estabeleça, colocamos mãos à obra partindo para as atividades (permanentes) e os projetos (temporais). Dentro de períodos pré-estabelecidos temos de avaliar as atividades e os projetos para saber se estão no rumo certo e vamos ver se será preciso replanejar a visão, os objetivos e assim por diante num processo de ativo feedback.
É simples assim! Simples que nada, quem lidera precisa ter o mapa de tudo na mão e saber envolver a equipe. Assim você aprende que planejamento estratégico sem gestão estratégica transforma o próprio planejamento numa bela peça literária. E nem falamos em ciclo de vida dos projetos. Aqui eu teria de lembrar do amigo, já falecido, Darcy Dusilek que me ensinou sobre a famosa curva sigmóide do ciclo de vida. Mas isso fica para outra hora.
Publicado originalmente em Instituto Jetro
Desde a juventude sempre atuei na gestão, seja de projetos, de organizações ou departamentos. Logo cedo aprendi que se algo precisa ser feito, é preciso investir em seu preparo. Minha primeira experiência nesta área foi quando, aos 17 anos, tive de assumir a direção de uma Escola Bíblica Dominical – com a antiga nomenclatura de superintendente da EBD. Descobri que tinha de prever as atividades que precisavam ocorrer de modo a ajustar a agenda dos eventos. Assim, sem saber os nomes corretos das “coisas” do planejamento, percebi que sem cronograma e previsão pouco poderia alcançar.
Depois notei que quem “tocava” a EBD, de fato, eram os professores, e desta forma descobri o sentido de equipe, mesmo sem saber que existia essa palavra. Aí procurei entender como o professor trabalhava. Descobri a Pedagogia e a Didática (gostei tanto que até hoje estou “embriagado” por isto no magistério teológico). Tentei encontrar alguém que pudesse “capacitar” (palavra inexistente naquela época no meio evangélico) os professores. Não achei ninguém. Mergulhei em livros educacionais e comecei a preparar textos para ajudá-los a exercer o seu papel. Na época não tinha xérox, então eu consegui um mimeógrafo a tinta manual, isto é, tinha de “bater” à máquina o estêncil, prender debaixo de uma tela, colocar tinta preta em cima da tela, colocar o papel sulfite embaixo e depois passar um “rodinho” para espalhar a tinta. Cada cópia era produzida artesanalmente. Como eu tinha trabalhado em gráfica como tipógrafo, aquilo era simples de fazer. Depois comprei um mimeógrafo a álcool, um dos primeiros de minha cidade.
Eu marcava (a palavra “agendar” era desconhecida) as reuniões com os professores antecipadamente, preparava tudo antes das reuniões e reconfirmava a sua presença alguns dias antes da reunião. Os resultados começaram a aparecer e o pessoal percebia que tudo estava funcionando e se sentia motivado a vir nas reuniões. Criamos também programas de recuperação a alunos desistentes, campanhas, eventos, etc.
As pessoas passaram a acreditar no meu trabalho e um efeito colateral disso tudo é que, se algo tinha de ser feito, eu era escolhido para liderar. Comecei a me sobrecarregar com tanta atividade que tive de aprender a gerir o meu tempo pessoal e descobri que o líder de equipe precisa antes ser líder de sua própria vida. No fundo trabalhava tanto para a obra de Deus que estava esquecendo do Deus da obra. Aí descobri que o líder, além de gerir a sua própria vida, precisa estabelecer prioridades para si mesmo, começando de seu relacionamento com Deus, consigo mesmo, com seu matrimônio, com sua família e depois, finalmente, com suas atividades. Nesta época eu já estava casado e com dois filhos.
Depois de quase 40 anos passados daquela minha primeira experiência de “gestor educacional” numa simples e pequena igreja onde era, na época, o interior de São Paulo, hoje já me vejo em fase de planejamento da aposentadoria. Posso dizer, no entanto, que ainda tenho fortes traços de personalidade “workahoolic” em meu sangue, tendo em vista a hipertenacidade que se tornou um estilo de vida. Um filho casado, dois no caminho, esposa que pode voltar a estudar, agora me transformaram em consultor de planejamento de suas vidas.
Tem sido gostoso e agradável olhar para trás e ver como Deus foi construindo tudo isto, especialmente quando estou em meu cantinho de sossego no alto das montanhas mineiras e vendo lá embaixo o vale e as montanhas ao longo do horizonte, sempre tendo em mente que tudo foi construído por Deus com detalhes de um planejamento minucioso e cuidadoso.
A verdade é que, toda tecnologia, vocabulário e ferramenta sobre planejamento, eu acabei adquirindo há cerca de 20 anos atrás, portanto, fazia planejamento estratégico sem saber que aquilo era isso mesmo. Se não tinha um recurso ou ferramenta para usar, pois os livros eram raros, eu ficava acordado até tarde ou acordava mais cedo para inventar, adaptar, datilografar (depois digitar), até mesmo porque era “pecado” usar livros seculares (“do mundo”) para o planejamento na igreja. Criei diversos inventários, um até para ajudar as pessoas a verem o seu nível de espiritualidade (imagine só isso, e feito na década de 80!), depois veio o inventário de dons (que já foi até publicado sem a citação de minha autoria) e tantas outras ferramentas.
O período, diríamos, técnico e científico sobre o planejamento em meu ministério veio antes de minha ida para pastorear na Ilha de Vitória, quando eu e o Ed René Kivitz ainda tínhamos tempo de “trocar figurinhas” sobre as descobertas em planejamento. Ele estava começando o seu pastoreio na IBAB, naquela época ainda na Rua Clélia. Foi uma época de grande aprendizagem juntos. Fui para Vitória e lá encontrei uma pessoa fenomenal em termos de amizade e de planejamento que me influenciou muito – Almir Cordeiro Júnior. Ele me ensinou a tecnologia do planejamento estratégico que uso até hoje e o famoso mapa conceitual das fases do planejamento estratégico.
Em resumo, Deus criou o mundo e para isto se valeu de um intrincado planejamento em que as coisas criadas vinham em sua devida hora. Depois de tudo pronto ele transferiu a Adão e Eva a gestão da natureza criada. Assim a primeira atividade humana foi o gerenciamento.
O planejamento estratégico nada mais é do que a reflexão antecipada sobre o que precisamos e desejamos fazer e a busca dos meios para alcançar isso, dentro de um prazo estabelecido. Sem o planejamento antecipado vamos depender de quem argumenta melhor, de quem tem mais poder ou de quem tem a chave do cofre (frase do Ed René).
Para elaborar o planejamento estratégico temos de seguir as suas fases. Antes de tudo será preciso estabelecer para nossa organização a sua natureza (razão de ser e missão), a sua filosofia (normas/doutrinas e valores/prioridades), avaliar o seu entorno em busca do público-alvo a ser atendido ou âmbito de atuação. Somente depois vem a visão de futuro que almejamos.
Na área empresarial a visão geralmente poderá vir antes de tudo, mas no campo eclesiástico, ela vem depois, pois a natureza e filosofia da igreja são pré-estabelecidas na Bíblia. Aí temos condições de estabelecer os objetivos que precisamos cumprir para alcançar o fim esperado. Dos objetivos estabelecemos as estratégias, depois as metas mensuráveis e as ações setoriais. Em seguida será preciso levantar os recursos necessários e a viabilidade financeira. Tudo ok até agora? Então se temos recursos, se os objetivos são viáveis para que a visão se estabeleça, colocamos mãos à obra partindo para as atividades (permanentes) e os projetos (temporais). Dentro de períodos pré-estabelecidos temos de avaliar as atividades e os projetos para saber se estão no rumo certo e vamos ver se será preciso replanejar a visão, os objetivos e assim por diante num processo de ativo feedback.
É simples assim! Simples que nada, quem lidera precisa ter o mapa de tudo na mão e saber envolver a equipe. Assim você aprende que planejamento estratégico sem gestão estratégica transforma o próprio planejamento numa bela peça literária. E nem falamos em ciclo de vida dos projetos. Aqui eu teria de lembrar do amigo, já falecido, Darcy Dusilek que me ensinou sobre a famosa curva sigmóide do ciclo de vida. Mas isso fica para outra hora.
Publicado originalmente em Instituto Jetro
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