Ética e Liderança Cristã: agosto 2013

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Reflexão sobre a autoridade

Claudinei Gomes da Silva

"Você sabe com quem está falando?". Certamente que muitos de nós já ouvimos essa frase ser dita e foi mais ou menos isso que disse o Governador Pilatos diante do maior julgamento da História: "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo?" A resposta impressionante de Jesus veio como balde de água fria ao afirmar: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim , se esta não te fosse dada de cima" (Jo 19:10-11).
A autoridade reside em Deus. Mas, parece que esse conceito é difícil de assimilar e Cristo sendo um exemplo e mestre no assunto não usou dessas prerrogativas que lhe eram inerentes. Ter ou ser uma autoridade vai além do simples exigir e mandar. O mundo está cheio de pessoas em postos de comando, convivemos com elas em todos os setores da vida. Em nossos trabalhos, empregos ou Igrejas é onde podemos ver como agem os líderes.
Os abusos ou deturpações nas lideranças sempre ocorrem em algumas organizações onde há líderes ou gestores que não aceitam as críticas e contrariação em suas decisões. Usam o cargo para oprimir e coagir por meio de ameaças e punições. Alguns alcançam o posto de chefia e acreditam que é tão somente para agir e pensar pelos outros. E o que dizer de alguns pastores e líderes onde as idéias de serviço já não fazem parte de suas filosofias ministeriais. Precisamos redescobrir o verdadeiro sentido do servir pelo simples prazer de servir.
O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir. Cristo diante de Pilatos deu-nos uma preciosa lição do que é ter autoridade. Sua submissão diante do Governador sinalizou para um fim maior; Deus seu Pai o qual procurava ouvir e servir na mais profunda intensidade.

Abuso de "autoridade" na Igreja
É justificável que ocorram certos abusos de lideranças em algumas organizações, governos ou nações, pois Cristo ponderou sobre isto, dizendo que no reino dos homens um governa e tiraniza sobre o outro, no entanto os abusos praticados por algumas lideranças de igrejas revelam uma fragilidade e um mal que devem ser tratados com a mais profunda amizade, paciência e graça.
Existem casos de pastores que não têm outras referências a não ser a si mesmos. Autoritários e mandões em suas ações e ou decisões. São líderes de si mesmos e não conseguem reconhecer nenhuma outra liderança que discorde de suas convicções teológicas ou filosóficas. Cristo reconheceu vários líderes religiosos: Nicodemos, o centurião, os escribas e fariseus sendo que nesses dois últimos criticou fortemente as suas ações que iam de encontro com seus discursos.
Reconheço a dificuldade de lidar com este assunto, mas esses temas: orgulho, ego, poder e cargos dificilmente são discutidos sem que haja farpas, ofensas, indiretas ou alfinetadas propositais. Urge que tenhamos coragem e sinceridade para tocar através do diálogo nessas feridas com a intenção de buscar uma cura. Quando ouvimos: "Você não sabe com quem está falando? Eu mando! Eu decido! Aqui sempre fazemos assim! Temos de forma clara um exemplo de alguém que não está servindo, mas que quer ser servido. Onde houver pouca disposição para ouvir e dialogar também haverá fraqueza na liderança.
O rabino Abraham Skorka no livro Razão e Fé num diálogo com o Papa Francisco e o Presbiteriano Marcelo Figueroa escreveu: "Quando a torre de Babel estava sendo construída, se um homem caísse e morresse, não diziam nada, não lamentavam. Mas se caísse um tijolo, ouvia-se: Ah, tanto tempo que perdemos para chegar aos céus!" Simplificando: isso é a base do modo como queremos encarar a vida? O que queremos? O que estamos construindo?
A exegese segundo a interpretação judaica aponta que todo o relato começa dizendo que havia um só idioma e foi isso que os levou a construir a torre de Babel. Depois Deus os castigou multiplicando os idiomas e fazendo que um não pudesse entender o idioma do outro. A ideia é que na tirania só existe uma linguagem, uma única maneira de entender, de entenderem-se uns com os outros. Aí perdemos a dimensão do diálogo.
Ninguém, nem pastor, mestre ou gerente é autoridade final em nenhum assunto, é intérprete só (Carlos Mesters). Uma autêntica liderança sempre será percebida quando houver uma real disposição no servir por servir e no prazer em dialogar com ambição de discípulo e eterno aprendiz.

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site www.institutojetro.com

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Em seus passos o que Jesus JAMAIS faria?

Pablo Massolar

"Em seus passos o que faria Jesus?" Este é o título de um livro escrito por Charles Sheldon e publicado originalmente em 1896, nos Estados Unidos, com o título "In His Steps".
A obra conta a história de Henry Maxwell, pastor da Primeira Igreja da cidade de Raymond, que vive honestamente sua vida confortável e sem contratempos, até o dia em que surge em sua igreja um homem pobre e necessitado. O episódio o leva a questionar seus próprios valores, o seu modo de vida e prioridades, colocando diante de si a inquietante questão: "O que Jesus faria?".
A partir disso, decide propor aos fiéis de sua igreja que se comprometam durante um ano a não fazerem nada sem antes perguntarem o que Jesus faria na mesma situação. O desenrolar da história descreve as experiências, tanto de satisfação e realização pessoal, como também de conflito e incompreensão que vão enfrentando à medida que se empenham em levar adiante o desafio proposto.
Hoje em dia há tanta gente doente e inescrupulosa dizendo agir "em nome de Jesus", proclamando da boca para fora "seguir os passos de Jesus", mas negando-o nas atitudes, enganando, extorquindo, manipulando e oprimindo que fica difícil encontrar Jesus, de verdade, nos passos destes. Ainda que eles gritem ou cantem nervosamente o nome de Jesus o tempo todo e façam até alguns aparentes sinais milagrosos.
Algumas vezes a imagem e referência do Jesus dos Evangelhos se apaga e se confunde com tanta demonstração tosca do que querem erroneamente fazer parecer Jesus, mas nem de longe se parece efetivamente com os passos de Jesus.
Mais do que levantar questões meramente morais ou culturais, percebo a urgência de esclarecer o que não representa e jamais se veria na vida prática do verdadeiro Jesus dos Evangelhos.
Acredito que boa parte do engano se dá pelo fato das pessoas não lerem e não conhecerem minimamente os Evangelhos, além da grande distorção que se faz com as escrituras por dinheiro ou para fazer perpetuar os domínios aprisionantes das instituições e dos rituais de poder humano.
Jesus jamais exigiu sacrifícios pessoais, esforço financeiro ou físico, presentes ou qualquer tipo de oferta para abençoar, curar, salvar, purificar e orientar as pessoas a sua volta.
Jesus jamais utilizou seu poder como estratégia de marketing pessoal. Embora os milagres fossem um sinal para que as pessoas cressem, e muitos o buscavam por causa dos prodígios e do pão que era multiplicado milagrosamente, Jesus jamais utilizou isso para segurar o povo a sua volta.
Jesus jamais distribuiu pão só para garantir plateia e ter a quem evangelizar.
Jesus jamais rejeitou qualquer pessoa por não professar a fé da mesma forma que ele a professava e a entendia. Mesmo Jesus frequentando sinagogas, tendo nascido no judaísmo, jamais deixou de andar e falar com pagãos, gentios, pecadores e toda sorte de gente considerada impura para os padrões da lei de Moisés.
Jesus jamais deixou a lei da religião ser mais importante que a vida e a misericórdia.
Jesus jamais deixou de amar. Jamais recusou a mesa e a comunhão mesmo a quem ele, de antemão, já sabia que o trairia. Até diante da angústia, do medo e do abandono, Jesus jamais se deixou ser vencido pelo rancor.
Jesus jamais usou em benefício próprio a influência que exercia sobre os discípulos.
Jesus jamais ensinou expandir o Reino através do acúmulo de bens ou da construção de templos.
Jesus jamais fez conchavos políticos, acordos com Roma ou com a religião dominante em troca de favores, cargos e liberdade para continuar pregando o que e onde bem quisesse.
Jesus jamais deixou de dizer a verdade por medo ou conveniência.
Jesus jamais disse a verdade para agredir, ofender ou provocar vaziamente.
Jesus jamais disse a verdade só para provar que estava certo.
Jesus jamais usou a verdade, ao contrário, se deixou ser usado por ela.
Jesus jamais denunciou o pecado sem amor, de forma constrangedora, ameaçadora ou sem acolher até as últimas consequências o próprio pecador envolvido.
Jesus jamais tratou os pecados particulares das pessoas de forma pública e vexatória.
Jesus jamais se deixou levar pela aparência externa. O que o fazia se desdobrar em misericórdia era a sinceridade interior e despretensiosa.
Jesus jamais ficou indiferente ao sofrimento, fosse ele de ordem psíquica, espiritual ou física.
Jesus jamais tratou com diferença pobres e ricos. Se alguma diferença ficou evidente, jamais foi contra a justiça.
Jesus jamais deixou de ser humano, mesmo sendo Deus se fez servo de todos.

Muitas outras coisas jamais se encontrariam no espírito e nos passos do Jesus dos Evangelhos, da Palavra de Deus feita carne, materializada e revelada definitivamente aos homens. Os passos de Jesus são reconciliadores, libertadores e despertam para a vida ainda que tudo a sua volta seja caos e morte. O que não se enquadra no Deus que se entrega por amor e misericórdia não cabe nos passos de Jesus.

O Deus que jamais se deixa enganar nos ensine a discernir nossos passos e nos abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

Texto originalmente publicado no blog do autor, que gentilmente o cedeu para publicação no Instituto Jetro.