Ética e Liderança Cristã: dezembro 2010

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Liderança serva: A chave da grandeza autêntica

"Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim. ... Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou os vestidos, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. (João 13:1, 3-5)
No clímax do seu ministério com os seus discípulos, num dos momentos finais, sabendo que esta seria a última oportunidade de marcar as vidas daqueles que iriam levar a Sua mensagem para a frente, Jesus podia ter optado por dar um discurso inspirativo—motivá-los a vencer, convencê-los que a vitória era mesmo alcançável. Podia ter dado os últimos conselhos aos seguidores, uma lista de prioridades estratégicas para o futuro do movimento. Podia ter indicado um sucessor na liderança, ou pelo menos definido um processo de sucessão para que nunca houvesse uma questão acerca de quem é que devia ficar à frente dos outros. Mas nenhuma destas coisas Jesus fez. Despiu-se, ajoelhou-se, e lavou os pés dos seus discípulos.
O que mais me incomoda nesta cena é o contraste com o impulso normal dos seguidores de Jesus hoje em dia. Esta lição tão profunda comunicada através de um acto tão simples, aponta para uma igreja que é, na sua essência e na sua prática, uma comunidade de servos, liderada por servos e orientada pelo Espírito de Deus. Em todo o seu ensino sobre o assunto, Jesus só falou da liderança em termos do serviço, do sacrifício e até de morte. Hoje em dia, quando falamos de liderança, a tendência é para falarmos em termos de organogramas, da gestão de recursos, da definição de prioridades e objectivos, da motivação dos seguidores e da coordenação do trabalho. A questão mais urgente é, "quem é o responsável?" É dizer "quem é que manda?" E o que mais queremos evitar é um "vazio de poder," uma falta de um "líder" reconhecido para "dirigir" a obra. Embora tenhamos aprendido a conviver com o desafio da imagem de Jesus a lavar os pés aos discípulos, a capacidade de seguir mesmo o exemplo de Jesus, geralmente, ainda nos escapa. Conciliamos o padrão de Jesus com a prática do nosso tempo e das nossas igrejas, considerando este acto de Jesus um símbolo, um paradoxo, um "ideal" a manter em mente, mas não muito prático na realidade. Mas a pergunta que nos devia incomodar é, será que Jesus, nesta última noite com os seus discípulos, queria apenas dar-lhes uma imagem bonita de um ideal não alcançável? E se Ele pretendesse mesmo que fôssemos servos?
Como é que chegámos até aqui, ao que somos hoje? Há um ano e meio atrás recebemos aqui o missionário e autor Bill Beckham que nos deu uma análise histórica da situação. Reafirmou que o momento de maior desvio na história do Cristianismo foi na "Síntese de Constantino," quando o Cristianismo passou do estatuto de "seita fora-da-lei" para o estatuto de "religião oficial."[1] Naquela altura, a igreja deixou de ser uma comunidade, e passou a ser uma instituição. A organização da igreja passou da simplicidade flexível e adaptável a uma hierarquia paralela á estrutura do império Romano. A função da liderança passou do "pastorear o rebanho" à "gestão da instituição." Seguiram-se também muitos erros doutrinários acerca da natureza da fé e da salvação. Mas os erros doutrinários foram essencialmente ajustes nas crenças para acomodar a nova natureza institucional e hierárquica da igreja. Na época da Reforma do Século XVI, recuperámos muitas das doutrinas que tinham sido perdidas ou corrompidas ao longo dos séculos, mas, em grande medida, mantiveram-se as estruturas e as abordagens à liderança eclesiástica. Nós, os Baptistas, que nos consideramos descendentes (ou pelo menos primos) do ramo mais radical da Reforma, gostaríamos de reclamar que, na nossa reforma, fomos para além dos Protestantes mais tradicionais para uma eclesiologia mais perto da igreja primitiva. Mas, de facto, isso não se verifica ao longo dos anos. A nossa estrutura e estilo de liderança normalmente reflecte mais o âmbito cultural e político em que nos encontramos do que qualquer modelo bíblico. Tendemos a ir buscar as nossas dicas para a gestão da igreja ao mundo da gestão de empresas, mais do que à Bíblia.
Mas mesmo este recurso à gestão empresarial hoje em dia é capaz de nos dirigir novamente ao exemplo de Jesus. Em 1977, Robert K. Greenleaf, um perito na gestão de empresas, publicou uma colectânea de artigos num livro com o título, "Liderança Serva". A conclusão de Greenleaf, fruto da sua reflexão e observação ao fim de uma carreira como consultor organizacional numa das maiores empresas dos Estados Unidos, foi que há uma mudança cultural a acontecer que se verifica nas atitudes e opiniões acerca da autoridade e do poder. Nesta nova ética, a única autoridade que merece a submissão das pessoas é a autoridade reconhecida livremente em resposta à estatura de servo do líder. Aqueles que aceitam este princípio não aceitarão facilmente a autoridade de instituições existentes, diz Greenleaf, mas, ao contrário, responderão apenas àqueles indivíduos eleitos como líderes porque já se provaram como servos. A essência da liderança, segundo Greenleaf, é o desejo de servir aos outros e a uma causa maior que nós próprios.[2]
Dificilmente se pode medir a influência do Greenleaf e das suas ideias no campo da gestão ao longo dos últimos 25 anos. Muitos dos autores mais reconhecidos nesta área consideram-se discípulos do Greenleaf. Ele continua a ser citado, e mesmo quando não é citado, o conceito da liderança serva surge. Num estudo mais empírico, o investigador Jim Collins analisou o funcionamento de 25 empresas que ultrapassaram dramaticamente o empenho da competição nos seus respectivos mercados. A primeira característica em comum que Collins e a sua equipa reconheceram foi o que ele chama "Liderança do Nível 5".[3] Cada uma destas empresas bem sucedidas foi liderada por uma pessoa cuja personalidade combinava uma força extraordinária de vontade profissional e uma qualidade extraordinária de humildade. Estes líderes investem a energia no sucesso dos outros e do empreendimento, acima do sucesso próprio—líderes servos!
Steven Covey, autor do livro "7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes," e um dos autores mais influentes no mundo empresarial, comentou no prefácio da edição do 25º aniversário do Greenleaf que o movimento a favor da liderança serva em todo o mundo é o resultado de duas forças poderosas. Primeiro, a globalização dos mercados e da tecnologia cria um ambiente que exige um alto nível de qualidade a um custo reduzido. Estes só podem ser atingidos através da delegação de poder e autoridade nas empresas, o que exige confiança e serviço da parte dos líderes. A segunda força, diz Covey, é a nova descoberta de princípios universais e eternos, e do valor da autoridade moral:
A autoridade moral ganha influência através da aplicação de princípios. O domínio moral atinge-se através do serviço e do contributo. O poder e supremacia moral surgem da humildade, quando o maior de todos se torna o servo de todos. A autoridade moral atinge-se através do sacrifício.[4]
Autores como Covey e Greenleaf utilizam os princípios e, por vezes, até as palavras de Jesus para falar sobre a liderança eficaz no mundo actual. James Hunter, outro autor e consultor de empresas até afirma, num livro secular e dirigido a gestores de empresas, que Jesus foi o líder mais eficaz da história. Baseia a sua conclusão no facto de que, embora houvessem outros líderes contemporâneos com muito mais poder político, a influência de Jesus ultrapassa qualquer um deles, e qualquer outro líder da história. Dois mil milhões de pessoas se consideram Cristãos, dois dos nossos principais feriados (natal e páscoa) comemoram eventos na vida dele e, dois mil anos depois da sua vida, o nosso calendário ainda conta os anos desde o seu nascimento. Se a liderança é a influência, diz Hunter, não há nenhum líder da história que se aproxime a Jesus.[5]
Não sei como o irmão reage, mas quando eu vejo este tipo de afirmações a sair do mundo secular e empresarial, levantam-se várias questões incómodas na minha mente:
Se o sector da nossa sociedade mais virado para o lucro e a competição brutal e fria está a descobrir o poder verdadeiro da liderança serva, como podemos nós, os seguidores de Jesus e herdeiros do reino, continuar a entrar em jogos de poder uns com os outros?
Se empresários estão a descobrir, aos poucos e com muito esforço e pesquisa, os princípios da liderança serva que Jesus propus, como podemos nós, possuidores da revelação divina—chamados, habitados e habilitados pelo Espírito de Deus—não explorar apaixonadamente as riquezas do exemplo de liderança que Jesus nos deu?
Se indústrias inteiras estão a ser transformadas por movimentos descentralizados de serviço e sacrifício, como podemos nós, os comissionados por Jesus para fazer discípulos de todo o mundo, continuar a abordar a nossa tarefa com métodos centralizados, controlados e localizados?
A globalização para o mundo empresarial representa um grande desafio e uma grande oportunidade. A globalização para a Igreja de Cristo representa um grande desafio e uma grande oportunidade. O mundo empresarial está a responder, adaptando-se, ajustando-se e aprendendo que, com uma atitude de serviço e sacrifício, se pode ganhar o mundo. Será que a igreja fará o mesmo? As empresas estão a mudar porque a sua própria sobrevivência está em jogo. As igrejas também podiam dizer o mesmo, mas temos uma razão maior e mais importante. Das últimas imagens que temos do nosso Senhor antes da sua crucificação é a forma de um servo, ajoelhado, com uma bacia e uma toalha, a lavar os pés dos seus discípulos, e a dizer, "É assim que se lidera o meu povo!"

Líderes servos precisam-se...já! Estaremos à altura?

Primeiro queremos saber o que é, e como se realiza a liderança serva....

Seis elementos da liderança serva, vistos não na prática contemporânea da gestão de empresas, mas na vida do líder mais eficaz da história ... em contrapartida com a liderança natural. (Não é uma lista exaustiva, mas é um início.)


I. A Essência da Liderança Serva: Influência (vs. Gestão)

Quando Jesus abordou os seus futuros discípulos à beira do mar, ou no campo, ou à mesa de cobrança de impostos, a proposta que ele lhes dava não era um contracto formal com clausulas que comprometiam o discípulo a seguir as orientações do mestre, a obedecer em qualquer lugar a qualquer hora qualquer mandado que Ele lhes desse. Ao contrário, o convite era sempre o mesmo, e sempre muito simples: "Siga-me". E a caminhada que eles começavam naquela altura não lhes levou a um programa sistemático de formação, nem a um percurso sistemático de carreira. Foi uma caminhada em que a influência de Jesus nas vidas deles era cada dia maior e mais poderosa.

Um dos primeiros erros que se comete no pensamento acerca da liderança é que a liderança é, no fundo, a gestão das pessoas. De facto, a gestão é algo que não se faz com as pessoas. Podemos gerir recursos. Podemos gerir projectos. Podemos gerir imobiliária. Mas quem tenta gerir pessoas está a lidar apenas com a pessoa do pescoço para baixo …as mãos, os pés, as actividades e talvez, até as palavras. Mas a mente e o coração não pertencem ao gestor.

A liderança verdadeira é bem mais do que isso. A liderança verdadeira é influência. É a capacidade de motivar e inspirar as pessoas a darem-se corpo, mente e alma a uma causa que consideram digno do maior sacrifício. Foi esta a liderança de Jesus, e é a liderança que nós temos de exercer.

Bill Hybels afirma que a igreja é a organização que depende mais da liderança verdadeira que qualquer organização no mundo.[6] Dependemos dos recursos que as pessoas oferecem da livre vontade. Se as pessoas não têm a vontade de aparecerem, nada acontece. Não há contractos nem obrigações. Tudo que acontece depende da nossa influência com as pessoas. O líder Cristão que vê a sua função principalmente como uma função de gestão, mais cedo ou mais tarde acaba por estar a gerir o ar.

A liderança serva é, na sua essência, influência.


II. O Recurso da Liderança Serva: A Autoridade (vs. Poder)

Outra distinção que devemos fazer é entre os conceitos da autoridade e de poder. James Hunter fornece definições úteis destes dois conceitos:

Poder: A capacidade de forçar alguém, através da coerção, para cumprir a minha vontade, mesmo que eles não queiram, por causa da minha posição ou força superior.

Autoridade: A habilidade de conseguir que as pessoas cumpram a minha vontade, sem coerção, por causa da minha influência pessoal.[7]

Na época de Jesus, havia muitas pessoas com mais poder aparente para a coerção do que ele próprio. Os governantes tinham o poder militar e político. Os fariseus tinham o poder cultural. Os Sacerdotes tinham o poder religioso. Todos estes tinham o poder da coerção por causa das posições, ou ofícios, que eles ocupavam. Mas, o que não tinham era a autoridade que fluía da influência das suas vidas.

Jesus, um mestre pobre e itinerante, sem posição nem ofício algum, conseguiu mobilizar multidões de seguidores, muitos dos quais chegaram a entregar a própria vida ao seu serviço, sem qualquer recurso ao poder coercivo. As pessoas cumpriam a sua vontade por causa da autoridade, e não por causa do poder.

É um erro muito grave assumir que, na obra do Senhor, podemos funcionar a partir de poder que decorre da posição. A liderança serva não recorre ao poder. O seu recurso principal é a autoridade que tem as suas raízes na influência pessoal.

III. A Agenda da Liderança Serva: As Pessoas! (vs. Projectos)

Uma das características do ministério de Jesus que mais me incomoda é a aparente e total ausência de projectos. Jesus não deixou nenhuma associação registada no Registo Nacional de Pessoas Colectivas, não colocou nem um tijolo em cima de outro num projecto de construção, não fundou nenhuma instituição, não escreveu nenhum panfleto para expor os seus pensamentos e não organizou, nem revisou, nenhum currículo para a formação de líderes. Ele tinha, sim uma missão a cumprir—e cumpriu! Ele tinha uma mensagem a proclamar—e proclamou. Mas o único projecto que ele alguma vez anunciou foi o projecto que prometeu realizar na chamada dos seus discípulos: Sigam-me, e eu farei de vós pescadores de homens! A agenda de Jesus era sempre pessoas.

E quando Ele nos comissionou, não nos enviou para o mundo com a tarefa de fundar instituições, ou de construir templos, ou de organizar associações. Enviou-nos com um só projecto: Ide, e fazei discípulos de todas as nações. A agenda da liderança serva é pessoas.

Uma agenda centrada nas pessoas terá, necessariamente, pelo menos duas características distintas. Primeiro, o impulso motivador será o amor. Não estamos a falar de carinho, nem de amizade, nem de sentimentos fortes a favor de outra pessoa. Este amor é a opção consciente a favor das necessidades daqueles que estou a liderar. Este amor busca o sucesso dos liderados acima do sucesso do líder. Coloca os outros sempre em primeiro lugar. A segunda característica necessária quando a agenda é pessoas é a prioridade dada aos relacionamentos. É impressionante como Jesus, com tantas tarefas exigentes e com uma missão tão importante, tinha sempre a disponibilidade de ouvir e responder à pessoa que estava à sua frente em qualquer momento. Esta qualidade só era possível porque Jesus não apenas colocava as pessoas na sua agenda. A sua agenda era mesmo as pessoas!

A nossa tendência normal é de dizer, "vamos responder às necessidades das pessoas com projectos". Mas o que acontece muitas vezes é que os projectos acabam por ficar com o primeiro lugar, e as pessoas ficam em segundo plano. A agenda da liderança serva é pessoas!

IV. O Princípio Organizacional da Liderança Serva: Delegação (vs. Controlo)

Agora precisarei de esclarecer uma questão de vocabulário. A palavra que tenho em mente quando falo de "delegação" é uma palavra para a qual ainda não encontrei equivalente em Português. Mesmo os livros escritos em Português por Portugueses tendem a usar a palavra Inglesa para se referir ao conceito que nós chamamos "Empowerment." Implica não apenas a delegação de tarefas, mas também a delegação de autoridade, a delegação de capacidade de tomar decisões, a delegação dos recursos, a delegação do poder. Este é o princípio organizacional que Steven Covey disse que a globalização está a exigir de nós. Um princípio que requer confiança, paciência e graça, e que, penso eu, é uma qualidade indispensável da liderança serva.

Em Mateus 10, Quando Jesus enviou os 70 para proclamar a mensagem do Reino dos Céus, como é que ele organizou o empreendimento? Criou uma estrutura hierárquica com vice presidentes e gestores intermediários para assegurar que quem teria a opção final em cada decisão seria ele próprio? Estabeleceu um sistema de comunicação que facilitasse os discípulos ao enfrentarem qualquer decisão de natureza estratégica ou prática, e que assim pudessem buscar a autorização do líder? Fez um sistema de comissões e conselhos para deliberar sobre cada assunto para que houvesse sempre consenso? Não fez nenhuma destas coisas. Deu-lhes orientações específicas daquilo que deviam fazer, e enviou-os, dois a dois, para cumprir a missão, voltando depois para partilhar o que tinha acontecido. Porque é que Jesus não criou um sistema mais eficaz de controlo de qualidade da obra? Penso que podemos apontar para, pelo menos, duas razões: Primeiro, ele sabia que, ao fim de três anos, a obra estaria nas mãos desses discípulos. Tinham de aprender rapidamente a tomar as decisões necessárias para a obra andar para frente. Portanto, Jesus nunca criou um sistema que exigia que pedissem autorização. O controlo estava nas mãos dos discípulos, seguindo as suas orientações gerais e, mais tarde, as orientações do Espírito Santo. Segunda razão, o objectivo de Jesus não era uma organização bem controlada. Era, sim, um movimento explosivo. E um movimento explosivo não pode acontecer num ambiente de controlo institucional.

Portanto, Jesus delegou, tanto as tarefas, como a autoridade, o poder, os recursos e as decisões aos seus discípulos. Com orientações gerais? Sim! Com a prestação final das contas? Claro! Mas a obra estava nas mãos dos seguidores. Nem sempre correu bem. Mas quando surgiam problemas que eles não podiam resolver, ele lidava com a situação com graça, aproveitando a oportunidade para ensinar mais uma lição importante.

O mundo de hoje em dia fornece grandes oportunidades para o crescimento explosivo do Reino. Mas isso só acontecerá se estivermos dispostos a pôr em prática o princípio organizacional da liderança serva: Abrir mão do controlo, confiar nos seguidores e no Espirito Santo e delegar tarefas, poder, autoridade, recursos e decisões.

V. O Alvo da Liderança Serva: Transformar (vs. Vencer)

É interessante reparar que, quando Jesus falava do impacto do Reino dos Céus no mundo, não usava imagens de guerra ou de conquista. Usava imagens da agricultura (grau de mostarda) ou da cozinha (fermento). O movimento que Jesus liderou não foi nunca um ataque frontal. Foi sim uma presença subversiva, um ingrediente transformador, uma força irresistível que acabou por transformar a sociedade inteira sem batalhas nem confrontos.

Este princípio teve algumas consequências muito práticas na estratégia da liderança de Jesus. Ele não facilitava a entrada das pessoas, e não impedia a saída. Mesmo ao nível pessoal, o objectivo dele não era de vencer, mas, sim, de transformar. O mancebo rico teria sido uma grande conquista, mas Jesus dificultou-lhe o caminho de tal maneira que virou as costas e foi-se embora triste. Outros que o queriam seguir foram confrontados com obstáculos como a pobreza (o filho do homem não tem onde se deitar), o compromisso a longo prazo (quem olhar para trás não é digno...), a quebra da família (que os mortos enterrem os mortos ...). E quando a multidão se tornava grande demais, Jesus pregava um sermão tão duro e exigente que a maioria desistia do caminho. Porquê? Porque Ele só queria investir naqueles que podiam dizer, "Deixar de te seguir? Para onde iríamos? Tu é que tens as palavras da vida!"

O alvo de Jesus não era a conquista. Era, sim, a transformação. Buscava aqueles que estavam mesmo desesperados, prontos para entregar a vida, e investia-se neles, para que chegassem a ser a semente de mostarda que chegou a ser uma árvore enorme, ou o fermento que transformou o pão inteiro.

VI. O Fim da Liderança Serva: O Sacrifício (vs. Lucro, conforto, fama, etc.)

Quando Jesus tinha acabado de lavar os pés dos discípulos, levantou-se do chão, vestiu-se, saiu daquela sala e daquele convívio caloroso, e entregou a sua vida numa rude cruz. A liderança serva não promete conforto, fama, facilidade de vida. Quando seguir-mos o caminho de Jesus mesmo até ao fim, chegaremos sempre à cruz. O fim da liderança serva é o sacrifício.

Uma das coisas que se verifica na história das missões é o facto de que, em cada época de avanço dramático no movimento moderno de missões, o avanço foi sempre acompanhado por um movimento estudantil...uma geração de jovens dispostos a dar tudo pela causa de Cristo no mundo. Em 1716, um jovem estudante de Halle, chamado Nicola von Zinzendorf formou um grupo de alunos chamado a "Ordem do Grão de Mostarda," com a visão de levar o evangelho ao mundo. Mais tarde, este compromisso levou-o a liderar o movimento dos Morávios, que foram, a grande preço e sacrifício, levando a mensagem de Cristo a terras que ainda não conheciam o nome de Jesus. Em Suriname, por exemplo 75 dos primeiros 160 missionários morreram no espaço de dois anos devido a doenças. Mas continuaram a avançar, custasse o que custasse. A liderança serva marcou a diferença, mas pagaram um alto preço.

Irmãos, creio de todo o meu coração que temos perante nós, hoje em dia, uma geração que terá a oportunidade, as condições e a disposição de realizar a grande comissão numa medida que o mundo ainda não viu. E quando penso nos anos que me restam para servir o Senhor neste mundo, a única coisa que quero ser é um recurso para esta geração. É esta a nossa missão como escola. É esta a chamada urgente de Deus para os nossos dias.

Mas, o que temos de ser, e o que termos de produzir são líderes servos. Líderes que vão para além da mera gestão de recursos para ter uma influência profunda no mundo à sua volta. Líderes que não funcionam a partir do poder da sua posição, mas da autoridade do seu carácter. Líderes cuja agenda e projecto principal não são instituições, edifícios e organizações, mas pessoas, criaturas de Deus, que se encontram no dia a dia, mas que também se encontrarão na eternidade. Líderes que sabem abrir mão do controlo dos seguidores para que o ministério se possa multiplicar. Líderes cujo alvo não é apenas vencer, mas, sim, ver a transformação do mundo pela graça e pelo espírito de Deus. Líderes comprometidos a percorrer o caminho todo, sabendo que só se chegará à alegria da glória através do sofrimento da cruz.

Nem todos os nossos alunos serão pastores. Mas o nosso objectivo como escola deve ser que todos sejam líderes servos!

[1] Muitas destas ideias são apresentadas no seu livro, The Second Reformation: Reshaping the Church for the 21st Century, (Houston:Touch Publications, 1995). Outro livro que inclui uma discussão interessante sobre o assunto é Wolfgang Simson, Casas Que Transformam o Mundo: Igrejas nos Lares (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001).

[2] Robert K. Greenleaf, ServantLeadership: A Journey into the Nature of Legitimate Power & Greatness (Mahwah, NJ: Paulist Press, 2002), 24.

[3] Jim Collins, Good to Great (New York: Harper Collins, 2001), 16-24)

[4]Steven Covey. "Forword" in Robert K. Greenleaf, ServantLeadership: A Journey into the Nature of Legitimate Power & Greatness (Mahwah, NJ: Paulist Press, 1977), 11.

[5] James C. Hunter, The Servant: A Simple Story About the True Essence of Leadership (New York: Crown Business, 1998), 77.

[6] Bill Hybels, Courageous Leadership (Grand Rapids: Zondervan, 2002), 24-25.

[7] James. C Hunter, The Servant, 30.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lições aprendidas com o planejamento estratégico

Lourenço Stelio Rega

Desde a juventude sempre atuei na gestão, seja de projetos, de organizações ou departamentos. Logo cedo aprendi que se algo precisa ser feito, é preciso investir em seu preparo. Minha primeira experiência nesta área foi quando, aos 17 anos, tive de assumir a direção de uma Escola Bíblica Dominical – com a antiga nomenclatura de superintendente da EBD. Descobri que tinha de prever as atividades que precisavam ocorrer de modo a ajustar a agenda dos eventos. Assim, sem saber os nomes corretos das “coisas” do planejamento, percebi que sem cronograma e previsão pouco poderia alcançar.
Depois notei que quem “tocava” a EBD, de fato, eram os professores, e desta forma descobri o sentido de equipe, mesmo sem saber que existia essa palavra. Aí procurei entender como o professor trabalhava. Descobri a Pedagogia e a Didática (gostei tanto que até hoje estou “embriagado” por isto no magistério teológico). Tentei encontrar alguém que pudesse “capacitar” (palavra inexistente naquela época no meio evangélico) os professores. Não achei ninguém. Mergulhei em livros educacionais e comecei a preparar textos para ajudá-los a exercer o seu papel. Na época não tinha xérox, então eu consegui um mimeógrafo a tinta manual, isto é, tinha de “bater” à máquina o estêncil, prender debaixo de uma tela, colocar tinta preta em cima da tela, colocar o papel sulfite embaixo e depois passar um “rodinho” para espalhar a tinta. Cada cópia era produzida artesanalmente. Como eu tinha trabalhado em gráfica como tipógrafo, aquilo era simples de fazer. Depois comprei um mimeógrafo a álcool, um dos primeiros de minha cidade.
Eu marcava (a palavra “agendar” era desconhecida) as reuniões com os professores antecipadamente, preparava tudo antes das reuniões e reconfirmava a sua presença alguns dias antes da reunião. Os resultados começaram a aparecer e o pessoal percebia que tudo estava funcionando e se sentia motivado a vir nas reuniões. Criamos também programas de recuperação a alunos desistentes, campanhas, eventos, etc.
As pessoas passaram a acreditar no meu trabalho e um efeito colateral disso tudo é que, se algo tinha de ser feito, eu era escolhido para liderar. Comecei a me sobrecarregar com tanta atividade que tive de aprender a gerir o meu tempo pessoal e descobri que o líder de equipe precisa antes ser líder de sua própria vida. No fundo trabalhava tanto para a obra de Deus que estava esquecendo do Deus da obra. Aí descobri que o líder, além de gerir a sua própria vida, precisa estabelecer prioridades para si mesmo, começando de seu relacionamento com Deus, consigo mesmo, com seu matrimônio, com sua família e depois, finalmente, com suas atividades. Nesta época eu já estava casado e com dois filhos.
Depois de quase 40 anos passados daquela minha primeira experiência de “gestor educacional” numa simples e pequena igreja onde era, na época, o interior de São Paulo, hoje já me vejo em fase de planejamento da aposentadoria. Posso dizer, no entanto, que ainda tenho fortes traços de personalidade “workahoolic” em meu sangue, tendo em vista a hipertenacidade que se tornou um estilo de vida. Um filho casado, dois no caminho, esposa que pode voltar a estudar, agora me transformaram em consultor de planejamento de suas vidas.
Tem sido gostoso e agradável olhar para trás e ver como Deus foi construindo tudo isto, especialmente quando estou em meu cantinho de sossego no alto das montanhas mineiras e vendo lá embaixo o vale e as montanhas ao longo do horizonte, sempre tendo em mente que tudo foi construído por Deus com detalhes de um planejamento minucioso e cuidadoso.
A verdade é que, toda tecnologia, vocabulário e ferramenta sobre planejamento, eu acabei adquirindo há cerca de 20 anos atrás, portanto, fazia planejamento estratégico sem saber que aquilo era isso mesmo. Se não tinha um recurso ou ferramenta para usar, pois os livros eram raros, eu ficava acordado até tarde ou acordava mais cedo para inventar, adaptar, datilografar (depois digitar), até mesmo porque era “pecado” usar livros seculares (“do mundo”) para o planejamento na igreja. Criei diversos inventários, um até para ajudar as pessoas a verem o seu nível de espiritualidade (imagine só isso, e feito na década de 80!), depois veio o inventário de dons (que já foi até publicado sem a citação de minha autoria) e tantas outras ferramentas.
O período, diríamos, técnico e científico sobre o planejamento em meu ministério veio antes de minha ida para pastorear na Ilha de Vitória, quando eu e o Ed René Kivitz ainda tínhamos tempo de “trocar figurinhas” sobre as descobertas em planejamento. Ele estava começando o seu pastoreio na IBAB, naquela época ainda na Rua Clélia. Foi uma época de grande aprendizagem juntos. Fui para Vitória e lá encontrei uma pessoa fenomenal em termos de amizade e de planejamento que me influenciou muito – Almir Cordeiro Júnior. Ele me ensinou a tecnologia do planejamento estratégico que uso até hoje e o famoso mapa conceitual das fases do planejamento estratégico.
Em resumo, Deus criou o mundo e para isto se valeu de um intrincado planejamento em que as coisas criadas vinham em sua devida hora. Depois de tudo pronto ele transferiu a Adão e Eva a gestão da natureza criada. Assim a primeira atividade humana foi o gerenciamento.
O planejamento estratégico nada mais é do que a reflexão antecipada sobre o que precisamos e desejamos fazer e a busca dos meios para alcançar isso, dentro de um prazo estabelecido. Sem o planejamento antecipado vamos depender de quem argumenta melhor, de quem tem mais poder ou de quem tem a chave do cofre (frase do Ed René).
Para elaborar o planejamento estratégico temos de seguir as suas fases. Antes de tudo será preciso estabelecer para nossa organização a sua natureza (razão de ser e missão), a sua filosofia (normas/doutrinas e valores/prioridades), avaliar o seu entorno em busca do público-alvo a ser atendido ou âmbito de atuação. Somente depois vem a visão de futuro que almejamos.
Na área empresarial a visão geralmente poderá vir antes de tudo, mas no campo eclesiástico, ela vem depois, pois a natureza e filosofia da igreja são pré-estabelecidas na Bíblia. Aí temos condições de estabelecer os objetivos que precisamos cumprir para alcançar o fim esperado. Dos objetivos estabelecemos as estratégias, depois as metas mensuráveis e as ações setoriais. Em seguida será preciso levantar os recursos necessários e a viabilidade financeira. Tudo ok até agora? Então se temos recursos, se os objetivos são viáveis para que a visão se estabeleça, colocamos mãos à obra partindo para as atividades (permanentes) e os projetos (temporais). Dentro de períodos pré-estabelecidos temos de avaliar as atividades e os projetos para saber se estão no rumo certo e vamos ver se será preciso replanejar a visão, os objetivos e assim por diante num processo de ativo feedback.
É simples assim! Simples que nada, quem lidera precisa ter o mapa de tudo na mão e saber envolver a equipe. Assim você aprende que planejamento estratégico sem gestão estratégica transforma o próprio planejamento numa bela peça literária. E nem falamos em ciclo de vida dos projetos. Aqui eu teria de lembrar do amigo, já falecido, Darcy Dusilek que me ensinou sobre a famosa curva sigmóide do ciclo de vida. Mas isso fica para outra hora.

Publicado originalmente em Instituto Jetro

domingo, 19 de dezembro de 2010

Planejamento estratégico: problemas e soluções

Estávamos numa reunião avaliando o planejamento de um período de trabalho. Um líder avaliou que o planejamento não foi eficaz e que precisaria melhorar. Ainda nesta reunião questionamos: como teria sido o período sem o planejamento? Realmente teria dificultado a organização e a realização das tarefas.
O planejamento estratégico é uma maneira de organizar as atividades da igreja que tem buscado caminhos para propiciar a sua importância e a proposta de fazer diferença na sociedade. Isto porque a sua identidade tem sido colocada à prova pelo ambiente em que atua. Às vezes, a igreja se ocupa com as múltiplas atividades e não consegue dar suporte às necessidades das pessoas. Outras vezes, constata-se que a liderança é sempre a mesma, ou centralizada, ou ainda o obreiro está sozinho.

Consideremos três pontos:

1. O ideal e a realidade
O ideal seria que cada organização, grupo e líder tivessem o seu planejamento e que tudo acontecesse como previsto. No entanto, a realidade nem sempre é esta, e existem perigos:

a) quando a organização deixa a razão para qual existe, quando ela deixa de cumprir o propósito de Deus como porta-voz da mensagem da salvação;
b) quando não se tem planejamento, facilmente se decide pela comunidade e contenta-se em reunir pessoas num mesmo lugar ou numa mesma tarefa. Quanto mais, melhor!;
c) normalmente são as questões pessoais que dificultam a organização e o gerenciamento de recursos pessoais e financeiros;
d) a institucionalização e a formalização da organização é um processo natural e corre-se o risco de perder o vigor e a missão pela qual existe. A rotina e a mesmice tornam-se a marca;
e) quando se faz o planejamento e este vale para sempre. Considerando a experiência de José (Gênesis) e Neemias, percebe-se que eles tinham alvos definidos, com propósitos, capazes de realizar e avaliar.

O planejamento estratégico está em constante avaliação e mudança. Quando alcança o alvo proposto, existe uma nova oportunidade a ser planejada. Ele é dinâmico.

2. O resultado e a crise do voluntariado
A organização e o planejamento da igreja cristã correm o risco de serem avaliados pelo resultado, pela técnica e pelo profissionalismo. Desta forma, compete-se com o capitalismo, que se esmera por centrar a sua atenção justamente no resultado e no lucro.
O capitalismo pós-moderno trata de ocupar todo o tempo da pessoa, fazendo com que as pessoas não tenham mais tempo. Além disto, que não façam nada sem serem pagas por isto. Gera a crise do servo e do voluntariado.
As pessoas se tornam incapazes de representar coerentemente o seu presente e de conceber as estratégias para produção de uma estratégia diferente. Geram sentimentos de incapacidade, impotência e insubmissão diante dos desafios nas mais diferentes esferas da vida cotidiana.

3. Os recursos e as oportunidades
A pós-modernidade desafia as igrejas cristãs – que pretendem ser “viveiros” de comunidade terapêutica – a planejarem, estruturarem e desenvolverem ações que:

a) possibilitem a participação de pessoas que não preenchem as expectativas da “boa ordem do espetáculo”, mas que podem desenvolver uma atividade no planejamento;
b) possibilitem que cada um, individualmente – seja na estrutura da instituição, na prática culto-litúrgica ou na presença da sociedade – possa viver uma das dimensões intrínsecas do “templo do Espírito Santo”: o privilégio e o direito de cada membro individualmente ser “mão”, “pé” ou “olho”, apesar de em conjunto construírem um só corpo (1ª Co 12);
c) considerem positivamente a tendência pós-moderna;
d) privilegiem e/ou construam técnicas e instrumentos que possibilitem trabalhar a realidade;
e) contribuam para a recuperação do ponto de complementaridade.

A grande dificuldade continua sendo como envolver as pessoas na organização da comunidade. Por isto, a necessidade da criação de pequenos grupos e uma comunidade terapêutica que serve.
O planejamento estratégico possibilita o espaço para a pessoa ter o seu envolvimento e a sua necessidade atendida. A pessoa que se sente atraída é aquela que tem alguma identificação com a organização, normalmente ocupada com uma tarefa.
Desta forma, o planejamento estratégico pode abrir caminhos que possibilitam o desenvolvimento da organização de forma que cumpra a sua missão com eficácia. Que ela seja terapêutica para a pessoa, para a família, comunidade e sociedade, capaz de valorizar o líder e a organização.
Atualmente, o planejamento é o caminho que potencializa os recursos que estão à disposição. Mesmo sendo poucos. Dará a perspectiva de desenvolvimento e disposição para buscar dinamismo e autenticidade organizacional e gerencial. Importa como aplicar os recursos que se tem. Porque onde acontece a semeadura e o plantio, mais cedo ou mais tarde, acontecerá a colheita (Is 55.10-11).
Planejamento é um caminho e não um ponto de chegada. É um olhar para o alvo. Onde o resultado é a gratidão do dever cumprido. “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes fora ordenado, devem dizer: Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever” (Lc 17.10)

Publicado originalmente em Instituto Jetro

sábado, 18 de dezembro de 2010

Planejamento estratégico para iniciantes

Washington Zucoloto

A sensibilidade de entender o que Deus quer e desafiar pessoas para realizar o projeto dEle!

Cada igreja tem sua forma particular de “administrar” seus projetos e suas atividades. Num Brasil com tantas complexidades eclesiásticas, não é minha intenção fixar uma regra. Desejo apenas dividir com você o que aprendi ao longo dos anos atuando no mundo corporativo e também em diversas denominações.
Acima de tudo, creio que a disposição de coração e a obediência à Deus é a “condição” mais poderosa que existe para transformar vidas e motivar uma igreja. O Planejamento Estratégico (PE) poderá ajudar a organizar melhor as ações que Deus quer de cada um de nós.
O desafio deste texto é responder algumas inquietações que podem ainda existir no coração de muitos líderes cristãos na utilização do PE.

- O que deve fazer e por onde deve começar uma igreja que nunca desenvolveu um PE?
- Quem deve se envolver? Todas as áreas/ministérios devem ser consideradas?
- Que roteiro deve ser seguido?

Permita-me fazer algumas perguntas que considero fundamentais para iniciarmos nosso “bate-papo”: Você liderou alguma construção ou reforma no templo nos últimos 5 anos ou qualquer outro projeto? Qual sua opinião sobre o envolvimento das pessoas, além do financeiro? O que faltou? O que poderia ser melhor?
Possivelmente, pela experiência ao longo dos anos, você respondeu que faltou PLANEJAMENTO ou ter dividido melhor as tarefas!
Enfim... Agora, você precisa pensar em como desenvolver melhor os próximos projetos ou, se estiver no meio dele, em mudar algumas atitudes para liderar melhor os desafios que estão pela frente.
Vou compartilhar com você 4 dicas de como iniciar, desenvolver e finalizar um planejamento, de forma estratégica, para que os resultados sejam mais motivadores e participativos.
Resultado numérico é uma conseqüência natural da qualidade do planejamento e da disposição das pessoas em realizar a vontade de Deus! (Vide Neemias).
Sem COMPROMETIMENTO não há planejamento que tire as pessoas de casa para realizar um projeto!

Dica 1: Saber onde você vai pisar!
Antes de realizar qualquer projeto, conheça seu público-alvo. Quem Deus mostrou, em oração ou pela Visão dada por Ele, que sua igreja pode e precisa alcançar? Como conhecer melhor as pessoas que serão alcançadas pelo projeto?
Você pode realizar algumas reuniões com seus lideres e nestes encontros conseguir informações valiosas através do próprio conhecimento deles. Faça isso! Depois me conte como irá mudar sua percepção inicial e os novos rumos para o projeto.

Dica extra: Eleja uma pessoa para anotar todos os pontos relevantes da reunião e lidere este encontro fazendo perguntas chaves para os participantes. As perguntas precisam ir de encontro ao projeto que pretende realizar com eles.

Dica 2: Use a razão dada por Deus!
Reúna todos os dados coletados nos encontros que vocês realizaram e classifique-os de uma forma mais organizada. Como organizar: Se seu projeto envolverá crianças. Qual a idade média delas? Moram com seus pais? Frequentam a igreja? Etc... Se seu projeto envolve universitários. Eles moram próximos da igreja? Tem alguma religião?

Dica extra: Esta fase exige um pouco de paciência e uma pequena habilidade em organizar os dados. Peça ajuda se não for sua “praia” lidar com números e gráficos simples. Para isto você não precisa de tecnologia nem comprar um computador para sua igreja!
Usar os números não extingue o Espírito. Eles apenas ajudam a organizar e entender melhor o que Deus falou que precisamos fazer! (Vide Neemias)

Dica 3: Analisar os pontos fortes, os fracos, as oportunidades e possíveis ameaças para o projeto.
Chegou a hora de olhar para o que vocês prepararam na dica 2 e transformar tudo isto em Estratégias e Metas bem claras. Vou dar um exemplo:
Nos dados coletados, foi constatado que a maioria das crianças no seu bairro moram com os pais. Isto pode ser uma OPORTUNIDADE para que outro projeto seja realizado em conjunto. Isto irá gerar várias ESTRATÉGIAS e AÇÕES para que a igreja se aproxime destes pais, com a graça de Deus!

Dica extra: Ameaça pode ser uma chuva que poderá cair na tarde que você planejou o evento ao ar livre e você terá que pensar num “plano B” se isto acontecer. Considere que tem irmão expulsando a chuva no dia do evento enquanto, à alguns quilômetros da igreja, outro orando para cair a mesma chuva para sustentar a família, que depende da colheita do feijão e do arroz!

Dica 4: Pessoas certas nas atividades certas!
Depois que você reuniu todas as informações que precisava com os encontros acima, agora é hora de sentar com uma equipe que tem uma noção básica de planejamento para elaborar as ações necessárias dentro do projeto.
Você não precisa de grandes mestres na área de planejamento. Uma pessoa organizada e que tenha liderança pode lhe auxiliar nisto.

Dicas extras:
- Faça uma lista de atividades claras e organize por responsáveis e prazos.
- Desafie as pessoas a se envolverem no projeto de acordo com seus dons e ministérios. Este processo é motivador!
- Convide-as pessoalmente e apresenta-as à Igreja como participantes e/ou líderes de cada atividade dentro do projeto. Isto valoriza e gera comprometimento!
- Acompanhe como gestor e delegue todas as atividades. Não perca o foco!
- Ore com as pessoas desanimadas e não pare a obra dando ouvidos aos que querem atrapalhar o projeto. (Vide Neemias)
- Depois de concluído o projeto, reconheça todos os envolvidos diretos e indiretos de forma que se sintam motivados a contribuírem com outros desafios. Sabendo que o que realizaram foi para a honra e glória de Deus!

Antes de iniciar, ore, como fez Neemias. Copiar projetos, simplesmente para dizer que temos, pode ser um equívoco missionário. Deus tem o melhor para cada um!
Os desafios e as oportunidades podem estar diante dos nossos olhos. Acredite! Recomendo que oremos de olhos abertos! Sempre dobramos nossos joelhos prometendo MELHORAR a cada ano, não é mesmo?!
Uma última pergunta: Estamos melhorando?

Dica extra: Que tal fazermos do dia de hoje o mesmo que fazemos todo dia 31 de dezembro? Orar e pedir a Deus agora mesmo sabedoria para utilizar o PE?!

Publicado originalmente em: Instituto Jetro

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Construindo um Novo Templo

Sidney Nunes

"E aqueles que estão longe virão, e ajudarão a edificar o Templo do Senhor; e vos sabereis que o Senhor dos exércitos me tem enviado a vós; e isso sucedera se diligentemente obedecerdes à voz do Senhor vosso Deus." Zacarias: 6:15

Notamos vários líderes com certa angústia para iniciar a construção de um Novo Templo, pois, por um lado eles conhecem a real situação financeira que limita as suas igrejas, e também os fardos de custos que serão repassados a todos os membros da congregação.
Eu e minha família já nos envolvemos em duas grandes construções de Novos Templos em nossa jornada evangélica, além de acompanhar, participamos ativamente das dificuldades de todos nessa batalha da construção.
Passamos abaixo pequenas dicas administrativas e sugestões de como proceder para o início da construção de um Novo Templo.

Formar comissão para Acompanhamento da Construção
Formar uma comissão de no mínimo dez membros da igreja que serão responsáveis pelo acompanhamento da construção da igreja. A sugestão é que nesta comissão sejam inseridos os membros da igreja com certo conhecimento em construção civil: Engenheiros, Mestre de Obras, Pedreiros, Colaboradores, etc.
Sugerimos sempre a realização de mutirões na igreja relacionados à construção, isso criará um grande amor entre os irmãos para com o novo projeto e a possibilidade de sua inclusão nele.
Antes de iniciar todo o projeto da construção, verifique se na igreja existem irmãos que tenham empresas no ramo de Construção Civil e ou Engenheiros, para que a empresa do mesmo ou o profissional seja consultado antes do início do processo.

Formar comissão de recebimento de valores para a construção
Formar uma comissão de no mínimo cinco membros da igreja que serão responsáveis pelo recebimento e repasse do mesmo ao tesoureiro da igreja. A sugestão é que esta comissão seja mesclada de pessoas simples (porém de conhecimento contábil) e de pessoas renomadas por causa de seu trabalho e índole na sociedade.
Esses recebimentos poderão ser controlados por carnê impresso (boleto bancário) com os valores que cada membro e/ou colaborador pretende contribuir mensalmente para a construção.
A igreja deverá abrir uma conta corrente exclusiva para a construção do novo templo em banco de fácil acesso aos membros. (Caso algum colaborador queira efetuar depósito direto no banco).
Também poderá criar um envelope para ofertas específicas para a construção.

Culto da Pedra Fundamental
O culto da Pedra Fundamental poderá acontecer com apresentação do louvor, uma ministração do pastor titular explanando sobre a visão que recebeu e que foi acolhida pelos líderes e membros da Igreja, neste desafio de construir. Ele ou o administrador da Igreja poderá em poucas palavras relembrar dos detalhes até este momento e como todos da igreja estão engajados para a construção.
Isto será um marco histórico para a igreja e para a cidade, por isso pode-se divulgar o culto nos meios de comunicação e convidar algumas autoridades municipais para que estejam presentes.
Durante este culto, em um momento simbólico, será colocada uma pedra com uma placa no terreno onde será construída a futura Igreja (com os dizeres: Pedra fundamental, o nome da Igreja e a data do culto).
A comissão de acompanhamento da obra deverá montar uma barraca sobre o Projeto da Construção. Neste espaço o engenheiro do projeto deverá explicar todos os detalhes da construção juntamente com o pastor titular/presidente.
As pessoas presentes terão à disposição materiais publicitários criados para explanar sobre a construção e também a maneira que poderão colaborar na arrecadação dos fundos para ela.
A comissão da construção já formada poderá iniciar o recebimento das doações e valores destinados para a construção, incentivando as pessoas para pegarem os carnês para colaboração futura.
Também poderão ser colocadas, por exemplo, várias barracas para que as pessoas adquirem os objetos doados pelos membros da igreja para ajudar na arrecadação de fundos.
Organizar material publicitário para arrecadação de fundos para a construção

Algumas sugestões de objetos que podem ser expostos nas barracas no dia do culto e em todos os cultos da igreja, em todas as congregações que fazem parte da igreja:
- Camisetas com desenho da futura construção e outros desenhos/frases cristãs.
- Desenho em quadro de vários tamanhos da construção.
- Adesivos com desenho da construção (Colabore com a construção da igreja)
- Canecas, canetas com desenho da construção.
- Tijolos tipo miniaturas com o desenho ou frases da construção.

Obs.: Esses produtos não poderão ser comercializados com valores elevados, para que todos os membros possam adquiri-los, abençoar e serem abençoados.

Todos os veículos de comunicação da Igreja deverão contar com um espaço de prestação de contas e apresentação dos relatórios sobre o andamento da construção. Poderá também, criar uma página na web para a construção onde constem os relatórios detalhados com fotos e planilhas dos custos atualizadas periodicamente.

Estas são apenas algumas dicas.

Sabemos que essa tarefa não será fácil, mas, pela determinação do pastor e de sua liderança haverá vitória em nome de Jesus.
Basta ouvir a Deus, ter fé, determinação, planejamento e ação. Já deu tudo certo!

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site http://www.institutojetro.com/ e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com