Ética e Liderança Cristã: julho 2007

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Fundamentos da Ética Cristã


Tomando Decisões

Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida individual; a vida da empresa, da igreja, a vida da nossa família... Enfim, a vida de nossos semelhantes.

Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas “ciências exatas” é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos e vivemos.

As decisões que tomamos são invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo individual e social. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.

A nossa palavra "ética" vem do grego eqikh, que significa um hábito, costume ou rito. Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de princípios ideais da conduta humana, as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros de uma sociedade.

Ética é o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões.


Alternativas Éticas

Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões...!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.

Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.


Éticas Humanísticas

As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aquelas éticas que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.

Hedonismo

Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego |hdonh, "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade. Os hedonistas mais radicais chegavam a ponto de dizer que era inútil tentar adivinhar o que dá prazer ao próximo.

Como conseqüência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.

Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. Freqüentemente somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. A ética natural do homem é o hedonismo. Instintivamente, ele toma decisões e faz escolhas tendo como princípio controlador buscar aquilo que lhe dará maior prazer e felicidade. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas atuais de hedonismo.

Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da existência humana.


Utilitarismo

Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.

A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.

Pessoas influenciadas pelo utilitarismo escolherão soluções simplesmente porque elas funcionam, sem indagar se são corretas ou não. Utilitaristas enfatizam o método em detrimento do conteúdo. Eles querem saber “como” e não “por quê?”.

Talvez um bom exemplo moderno seja o escândalo sexual Clinton/Lewinski. Numa sociedade bastante marcada pelo utilitarismo, como é a americana, é compreensível que as pessoas se dividam quanto a um impeachment do presidente Clinton, visto que sua administração tem produzido excelentes resultados financeiros para o país.


Existencialismo

Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte.

Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.

O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.


Ética Naturalística

Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.

Por incrível que possa parecer, essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.

A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor, a humildade e a piedade.

Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os "inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos (mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neo-nazistas nos muros de São Paulo contra negros, nordestinos e pobres. Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.

Os cristãos entendem que uma ética baseada na natureza jamais poderá ser legítima, visto que a natureza e o homem se encontram hoje radicalmente desvirtuados como resultado do afastamento da humanidade do seu Criador. A natureza como a temos hoje se afasta do estado original em que foi criada. Não pode servir como um sistema de valores para a conduta dos homens.


Éticas Religiosas

São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.


Éticas Religiosas Não Cristãs

No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação.

O conceito hindú de não matar as vacas vem de uma crença do período védico que associa as mesmas a algumas divindades do hinduísmo, especialmente Krishna. O culto a esse deus tem elementos pastoris e rurais.

O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe. E esse pressuposto inevitavelmente irá influenciar suas decisões e seu sistema de valores.

É muito comum na sociedade moderna o conceito de que Deus (ou deuses?) seja uma espécie de divindade benevolente que contempla com paciência e tolerância os afazeres humanos sem muita interferência, a não ser para ajudar os necessitados, especialmente seus protegidos e devotos. Essa concepção de Deus não exige mais do que simplesmente um vago código de ética, geralmente baseado no que cada um acha que é certo ou errado diante desse Deus.


A Ética Cristã

Á ética cristã é o sistema de valores morais associado ao Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica de seus preceitos.

Como as demais éticas já mencionadas acima, a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único Deus verdadeiro. São estes:

1. A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos céus e da terra. A ética cristã parte do conceito de que o Deus que se revela nas Escrituras Sagradas é o único Deus verdadeiro e que, sendo o criador do mundo e da humanidade, deve ser reconhecido e crido como tal e a sua vontade respeitada e obedecida.

2. A humanidade está num estado decaído, diferente daquele em que foi criada. A ética cristã leva em conta, na sistematização e sintetização dos deveres morais e práticos das pessoas, que as mesmas são incapazes por si próprias de reconhecer a vontade de Deus e muito menos de obedecê-la. Isso se deve ao fato de que a humanidade vive hoje em estado de afastamento de Deus, provocado inicialmente pela desobediência do primeiro casal. A ética cristã não tem ilusões utópicas acerca da "bondade inerente" de cada pessoa ou da intuição moral positiva de cada uma para decidir por si própria o que é certo e o que é errado. Cegada pelo pecado, a humanidade caminha sem rumo moral, cada um fazendo o que bem parece aos seus olhos. As normas propostas pela ética cristã pressupõem a regeneração espiritual do homem e a assistência do Espírito Santo, para que o mesmo venha a conduzir-se eticamente diante do Criador.

3. O homem não é moralmente neutro, mas inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. Esse pressuposto é uma implicação inevitável do anterior. As pessoas, no estado natural em que se encontram (em contraste ao estado de regeneração) são movidas intuitivamente, acima de tudo, pela cobiça e pelo egoísmo, seguindo muito naturalmente (e inconscientemente) sistemas de valores descritos acima como humanísticos ou naturalísticos. Por si sós, as pessoas são incapazes de seguir até mesmo os padrões que escolhem para si, violando diariamente os próprios princípios de conduta que consideram corretos.

4. Deus revelou-se à humanidade. Essa pressuposição é fundamental para a ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua imagem em nós. Cada pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa imagem, agora deformada pelo egoísmo e desejos de autonomia e independência de Deus. A consciência das pessoas, embora freqüentemente ignorada e suprimida, reflete por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se revela através das coisas criadas. O mundo que nos cerca é um testemunho vivo da divindade, poder e sabedoria de Deus, muito mais do que o resultado de milhões de anos de evolução cega. Entretanto é através de sua revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber acerca de si próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos cerca, dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar no mundo que criou.

Assim, muito embora a ética cristã se utilize do bom senso comum às pessoas, depende primariamente das Escrituras na elaboração dos padrões morais e espirituais que devem reger nossa conduta neste mundo. Ela considera que a Bíblia traz todo o conhecimento de que precisamos para servir a Deus de forma agradável e para vivermos alegres e satisfeitos no mundo presente. Mesmo não sendo uma revelação exaustiva de Deus e do reino celestial, a Escritura, entretanto, é suficiente naquilo que nos informa a esse respeito. Evidentemente não encontraremos nas Escrituras indicações diretas sobre problemas tipicamente modernos como a eutanásia, a AIDS, clonagem de seres humanos ou questões relacionadas com a bioética. Entretanto, ali encontraremos os princípios teóricos que regem diferentes áreas da vida humana. É na interação com esses princípios e com os problemas de cada geração, que a ética cristã atualiza-se e contextualiza-se, sem jamais abandonar os valores permanentes e transcendentes revelados nas Escrituras.

É precisamente por basear-se na revelação que o Criador nos deu que a ética cristã estende-se a todas as dimensões da realidade. Ela pronuncia-se sobre questões individuais, religiosas, sociais, políticas, ecológicas e econômicas. Desde que Deus exerce sua autoridade sobre todas as dimensões da existência humana, suas demandas nos alcançam onde nos acharmos – inclusive e principalmente no ambiente de trabalho, onde exercemos o mandato divino de explorarmos o mundo criado e ganharmos o nosso pão.

É nas Escrituras Sagradas, portanto, que encontramos o padrão moral revelado por Deus. Os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte proferido por Jesus são os exemplos mais conhecidos. Entretanto, mais do que simplesmente um livro de regras morais, as Escrituras são para os cristãos a revelação do que Deus fez para que o homem pudesse vir a conhecê-lo, amá-lo e alegremente obedecê-lo. A mensagem das Escrituras é fundamentalmente de reconciliação com Deus mediante Jesus Cristo. A ética cristã fundamenta-se na obra realizada de Cristo e é uma expressão de gratidão, muito mais do que um esforço para merecer as benesses divinas.

A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.

Bibliografia e autoria:

Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes

http://www.ipb.org.br/estudos_biblicos/index.php3?id=9

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sobre a ética

O pesquisador Rodrigo José Chacon de Mesquita, formado em Ciências Polítcas, pela Universidade de Fortaleza, discorre sobre a problemática da ética no contexto contemporâneo


A problemática que envolve a ética sempre foi e provavelmente continuará sendo tema que dá a tônica às discussões e debates dentro e fora da academia, fazendo com que seja amplamente conceituada, interpretada por diversos membros da intelligentsia mundial e sentida sua falta no campo prático. A dificuldade muitas vezes se concentra no fato de que não sendo um conceito uno, ela possa ser acionada e executada de diversas formas despertando assim a crítica de muitos.
Primeiramente faz-se necessário que pensemos qual o conceito de ética que nos norteia. Fundamentalmente a formação do preceito ético deve advir de uma racionalidade existente, partindo da moral subjetiva do indivíduo, sendo também o conjunto de relações sociais, políticas, educacionais, econômicas dentre outras, que possam estar dentro de uma normatividade ou não que, por subsecutivo apontará as diretrizes de uma coletividade. Ou seja, a ética é, além do agrupamento das morais, o resultado da racionalidade existente em uma sociedade.
Visto o que foi feito nas linhas ascendentes chegamos ao questionamento, por que se encontra um crítico problema entre ação e a ética? Sendo a razão condição sine qua non para a formação da ética, há a necessidade de se pensar no quadro existente as situações que possam agravar o caso. Analisemos o exemplo de um miserável que furta comida para alimentar-se. Eticamente, na sociedade atual, o furto é uma prática condenável, mas retornemos a questão da racionalidade introduzindo-a no modelo apresentado. Um sujeito, psicologicamente falando, somente pode ter considerada sua racionalidade intacta quando está pleno em seu desenvolvimento físico, logo a fome é um elemento que subtrai a razão de qualquer ser humano. Seguindo a lógica apresentada, sem racionalidade não se pode existir moral, conseguintemente o indivíduo citado poderia estar posto a margem de qualquer julgamento ético. Por outro lado, devido ao ordenamento jurídico, este lumpemproletário estaria sujeito a ser posto em cárcere privado. Outro caso poderia ser a de um sujeito nascido à margem de qualquer ensinamento moral ou teórico, como os menores abandonados. Estes estariam tipificados na mesma circunstância daquele.
Há de se convir então que o problema entre a ação e a ética está posto na condição em que a pessoa é construída, ato contínuo, de como é a ética da sociedade e de como ela é perpassada.
Entretanto os exemplos citados anteriormente não contemplam a complexidade do assunto, pois como se explicaria assim a sonegação de impostos dos mega-empresários ou a corrupção praticada ativamente ou passivamente pelos representantes políticos de um país, já que estes poderiam ser considerados bem formados intelectualmente, estarem bem fisicamente, logo com sua racionalidade intacta? No caso brasileiro, Roberto Damata fala do ´jeitinho brasileiro´ de resolver os problemas hodiernos, já Sérgio Buarque de Holanda faz referência ao ´homem cordial´. Ambas as teses acabam caindo no viés da explicação cultural como fonte da falta de apego ao que se relaciona a ética. Seria uma herança cultural já vinda da coroa e da sociedade portuguesa corroborada pela ´ignorância´ africana e nativa (nos referimos aqui aos pseudo-índios) que acabou por se tornar uma relevante propriedade do povo brasileiro. Acontece que ao tomarmos o problema da falta de ética como uma característica cultural, bastante explícita ao Brasil, há de se formular dois questionamentos cruciais: Quer dizer então que todo filho de ladrão, por exemplo, será ladrão por ser a ética uma herança também cultural? E como entenderemos então casos de corrupção na Europa e EUA (com grandes níveis de corrupção, mas esta sendo bastante ocultada) já que o tipo de formação societária foi por demais diferenciada do caso nacional?
Para a primeira pergunta deve-se entender que não é porque o pai de uma criança seja ladrão ou corrupto que o seu descendente também o será, até por que a explicação culturalista não fala de nada relacionado a herança genética. A formação ética de uma pessoa, como está explicada nos primeiros parágrafos, é dada por categorias políticas, educacionais... Ou seja, tudo o que o circundeia. Portanto, mesmo que o pai ensinasse deliberadamente o seu filho a ser desonesto este não seria necessariamente uma pessoa fora dos padrões civilizatórios da sociedade burguesa capitalista que vivemos. Pelo mesmo pensamento, não é necessariamente que um indivíduo será ético pelo simples motivo que seus pais o ensinaram. Pode-se então questionar a relevância do ensino de cadeiras de ética nas escolas e universidades, mas deixaremos isto para posteriori.
Quanto ao segundo questionamento, não se pode dizer que a falta de ética é um problema exclusivamente brasileiro, pois também é mundial. Mas se no Brasil o problema foi de herança cultural, como elucidar o caso da Dinamarca que é o país com o melhor IDH do mundo? Há de se entender que uma das características da falta de ética burguesa (não só burguesa, mas em muitos casos se torna exclusividade) é a corrupção e, para decepção dos que sonham com a pureza das relações sociais, esta é inerente à política. A corrupção está na política de maior ou menor expressividade, mas nunca deixou ou deixará de existir, logo os problemas éticos são quase que impossibilitados de solução, no máximo posto em menores proporções como nos países europeus mais desenvolvidos.
Destarte, podemos sim relacionar o problema da ética com a questão cultural, porém esta não é instância suficiente para responder toda a problemática, é apenas uma das particularidades da formação da solução, que fazemos questão de adiantar que não temos a resposta, pois não somos detentores da verdade una, este recurso somente Deus o tem, se Ele existir e for da mesma forma da idealização cristã.
Relacionado ao problema que se levantara anteriormente, fica então prejudicada a idéia de se ensinar ética. Muitos acadêmicos dizem que é inútil esta ciência, dando uma reposta maniqueísta ao proclamar que ´se tem ou não´. Quanto aos professores fica a resposta que uma cadeira de ética ajuda sim na formação de um bom indivíduo. Não se é aqui totalmente contra ou a favor das duas proposições, mas não vamos retornar ao debate da formação ética para isso, pois já está bastante clara a posição aqui defendida. O problema é que contemporaneamente as universidades ensinam esta ciência de forma fragmentada, para que se possa ilustrar esta afirmação é simples, basta se analisar a grade de diversos cursos e encontra-se a ética da Ciência Política, a ética do Direito, a ética da Medicina... Ao invés de se encontrar simplesmente ética, pois esta é universal. Logo nota-se que cada ciência forma o seu posicionamento do mundo, que deveria ser interdisciplinar e multisetorial, impossibilitando qualquer comunicação entre elas. Outro problema é que se um sujeito chega à academia pleno de suas convicções neste sentido (não sendo necessariamente uma convicção da lógica burguesa), dificilmente cambiará.

Não há então possibilidade de diminuir os atuais problemas relacionados à ética? Provavelmente sim. Muitos podem questionar então que não devido ser um problema cultural, mas estes se enganam, pois não é porque contém esta singularidade que não pode ser alterada, requer tempo, mas é possível. Discorda-se que o ensino científico ou familiar da ética seja a solução, contudo pode ser elemento participativo. Existe uma série de mudanças a serem feitas, mas de nada adiantará se a forma de sociedade continuar na mesma lógica depredadora e depreciativa como que vivemos. Fica então a esperança que com as auto-alterações feitas pelos seres humanos, a sua forma de sociabilidade mudará de forma a suprir as necessidades mínimas do ser, entre elas a ética.

RODRIGO JOSÉ CHACON DE MESQUITA
Cientista Político

Fonte: Diário do Nordeste - Caderno 3

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Quando se acha que não há nada a perder, muda a racionalidade, mudam as emoções, muda a moral da história e muda o peso da ética. O crime não compensa? Comparado com a miséria compensa. Comparado com a pobreza engana.
Rui Tavares

A ética é a estética cá de dentro.

Pierre Reverdy

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Liderar

O Preço da Liderança

Ética

Ética - Quem Tem, TEM!

Ética nas empresas

terça-feira, 3 de julho de 2007

Obediência - a visão do líder

Jesus lavando os pés dos discipulos.

Parte 1 - O Mandamento
Em diversas passagens a Bíblia é clara em relação ao chamado à obediência, aos nossos pais, ao governo, às autoridades eclesiásticas e todas as demais autoridades. Pois essas são instituídas pelo próprio Deus (Rm 13.1-2, 1Pe 2.13-14, Tt 3.1, Jd 9, Hb 13.17). Muitos tentam justificar sua desobediência com o autoritarismo de seus pais ou da corrupção do governo. Porém a Bíblia não nos dá essa opção, ainda mais se levarmos em conta o contexto histórico em que os textos que exigem obediência foram escritos. Nos tempos neotestamentários, o cristianismo não era essa moleza que é hoje, não havia pastores prometendo prosperidade financeira, física e emocional. A mensagem era “aceite a Cristo e esteja preparado para sofrer”, o próprio Jesus reservou duas bem-aventuranças aos perseguidos (Mt 5.10-11), e uma rápida lida nas páginas de Atos dos Apóstolos nos mostram essa assustadora realidade. Nero, imperador romano da época, colocou nos cristãos a culpa pelo incêndio em Roma, que foi sua responsabilidade. D.James Kennedy diz sobre Nero em seu livro “E Se Jesus não tivesse nascido?”:


“Era uma época cruel, caracterizada por tiranias e despotismo. Tome o imperador Nero como exemplo. Ele havia recebido o que havia de melhor na educação filosófica pagã e, ainda assim, degenerou para tornar-se um dos piores homens que a mente poderia conceber. Muitas vezes freqüentava bordéis disfarçado. Praticava, como diz um historiador, “indecências em garotos [...] batendo, ferindo, assassinando”. Ele teve uma amante com a qual queria ter um romance, mas sua esposa se opôs. O que fazer em um caso como esse? Bem, isso deveria ser óbvio para toda e qualquer pessoa: você simplesmente mata sua esposa – e foi o que ele fez. Mas sua mãe se opôs. Portanto, matou sua mãe. Mas ele não era totalmente desprovido de sentimentos. Na verdade, quando olhou para o corpo de sua mãe no funeral, disse “Eu não sabia que tinha uma mãe tão bonita”.

A seguir, casou-se com sua amante. Mas um dia, esta cometeu o triste erro de aborrecê-lo por ter chegado tarde das corridas. Estava nos últimos meses de gravidez e Nero a chutou no estômago, matando-a com a criança. Lembre-se de que este era o governante do mundo naquela época! Foi realmente um tempo cruel.”


Foram nessas condições que os apóstolos viveram e pregaram a mensagem do Evangelho. Dentre eles, somente João morreu de morte natural. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, Tiago apedrejado e Tomé transpassado por uma lança. Não foi a toa que Tertuliano, um dos pais da Igreja, disse “o sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Foi nesse período de perseguição intensa que a Igreja mais apresentou saúde e crescimento. E ainda assim, debaixo de toda essa perseguição os apóstolos escreveram nos exortando a obedecer! Portanto, não podemos usar como desculpa para desobediência a corrupção do governo, ou o autoritarismo de nossos pais terrenos. A ordem é obedeça! Obedecer não somente ao líder bom e cordato, mas também ao perverso (1Pe 2.18). Jesus, filho de Deus, obedecia aos seus pais (Lc 2.51). Se alguém tinha direito de desobedecer, esse alguém era Ele. Mas ele não o fez e, portanto não podemos ter a pretensão de achar que somos bons demais para nos submeter, quem pensa dessa forma é porque é inseguro demais para se rebaixar. Obediência é a maior exigência que Deus faz ao Homem. Por ser Deus invisível, as pessoas o recriam a sua própria imagem e semelhança, moldam um ‘deus’ confortável a elas, “eu me submeterei a Deus contanto que concorde com Ele”, isso não é submissão em lugar algum, nós devemos nos submeter a Deus quer concordemos quer não, devemos confiar que Ele, por ser o criador da vida, sabe exatamente o que é melhor para nós e como viver a vida da melhor forma. Muitas vezes obedeceremos sem saber o porquê, a exemplo dos hebreus que seguiram muitas leis que não faziam sentido para eles, mas hoje a ciência revela o porquê de muitas delas. Mas o propósito desse artigo não é ser mais um peso nas costas dos liderados, as exigências de líderes autoritários já são pesadas o bastante. Portanto passaremos ao nosso segundo ponto.


Parte 2 - O Lado do líder
Paul Tournier, em Culpa e Graça diz:


"Filhos, obedecei a vossos pais", escreve o apóstolo Paulo (Ef 6:1). Os pais devotos evocam este versículo para exigirem de seus filhos uma submissão servil, mesmo depois de terem deixado de ser crianças. Mas estes pais dão pouca atenção ao que o apóstolo acrescenta logo a seguir: "Pais, não provoqueis vossos filhos à ira" (Ef 6:4) nem ao que ele acrescente ainda em outra passagem: "... para que não fiquem desanimados" (Cl 3:21).”


Lideres em geral, pais e pastores em especial, exigem muito de seus liderados. Mas esquecem da sua responsabilidade em conquistar a obediência de seus liderados, infelizmente no mundo em que vivemos, as pessoas se preocupam muito mais com seus direitos do que com suas responsabilidades. Não podemos esquecer que nossas atitudes como lideres podem gerar rebeldia e insubmissão nos nossos liderados. Opressão e autoritarismo geram rebeldia. Nas Igrejas, em especial nas Igrejas de visão celular e G12, muito é falado sobre obediência e autoridade espiritual. Mas sempre direcionado ao lado do liderado, nunca do líder. Onde entra a responsabilidade do líder? Não adianta gastarmos o precioso tempo de nossos cultos falando sobre obediência, dizendo que o discípulo tem que obedecer, tem que ser submisso, que rebeldia é pecado de feitiçaria (1Sm 15.22-23) se nós não ensinarmos o líder a conquistar a obediência e autoridade sobre seus liderados, ou discípulos. Margareth Thatcher disse:Estar no poder é como ser uma dama, se você tiver que lembrar as pessoas que você é, você não é”. O bom líder não precisa lembrar que é líder, seus discípulos agem devido a sua autoridade sobre eles, autoridade essa que não pode ser imposta, mas somente conquistada. Muitas vezes acreditamos que por possuirmos um titulo de líder, todos os liderados são obrigados a obedecer, enquanto é o líder que faz a posição e não a posição que faz o líder, em outras palavras, o bom líder independe de um titulo. O próprio Jesus não nos coage a agir pela força, mas pelo amor e serviço e nos convida a fazer o mesmo (Mt 20.26-28, Mt 23.11).


Parte 3 - O que gera rebeldia?
Líder, quando você se irar com a rebeldia do seu discípulo, antes de descarregar sua ira nele, se pergunte quanto você tem servido por ele, quanto você tem se oferecido a ele, quanto você tem gastado em ouvi-lo, em amá-lo, em se relacionar com ele, em suprir as necessidades dele. Sonde a sua vida e reflita se a rebeldia do seu discípulo, na verdade não é reflexo da sua rebeldia com o seu líder. Às vezes o discípulo está apenas reproduzindo o que viu em você. Lembre-se que nem todos podem ser líderes, como muitos gostam de ensinar, mas a liderança é privilégio daqueles disposto a servir, se sacrificar, amar, e abrir mão do ego, esses sim, podem liderar. Muitas vezes nós, lideres, só nos preocupamos com nossos direitos, e não refletimos nas terríveis responsabilidades de sermos lideres. Se a gente só pregar sobre obediência, podemos acabar transformando a Igreja em um rebanho de ovelhas cegas e lideres autoritários. Por isso se faz necessário, que o líder olhe mais para si mesmo quando vê rebeldia em seus liderados. Rebeldia é muitas vezes um grito por liberdade, liberdade essa castrada por leis, coerção e repreensão de líderes que não sabem liderar. Sabe porque você precisa pregar repetidas vezes sobre obediência para seus discípulos? Porque eles não te vêem como um líder, você não tem autoridade sobre eles. Não estou dizendo que não devemos pregar e enfatizar a obediência. Devemos sim. O principio precisa ser passado. Mas se nós lideres pararmos um pouco de tentar mudar nossos discípulos, e lembrarmos de mudar a nós mesmos, é certo que conquistaremos autoridade, respeito e obediência sem nem precisar abrir a boca.


Parte 4 - Quando desobedecer?
Sempre que a ordem da liderança entra em conflito com a autoridade de Deus, prevalece a segunda. “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). Por isso se faz necessário o profundo conhecimento teológico para não cairmos nas garras de pastores mal intencionados, ou líderes que pecam não por malicia, mas por ignorância. O que é comum devido ao espírito antiintelectualista que assombra nossas Igrejas nos dias de hoje. Um exemplo Bíblico de desobediência é o caso das parteiras em Êxodo 1.15-22, o rei do Egito ordenou que elas matassem todo recém nascido do sexo masculino, mas por temor a Deus (Ex 1.17) elas não obedeceram à ordem do rei e foram abençoadas por Deus por tal atitude (Ex 1.20-21). Somente nesse caso nos é permitido desobedecer, não nos é permitido julgarmos o coração de um líder, não sabemos qual líder tem o coração de Davi e qual tem o coração de Saul, as aparências enganam na maioria das vezes. Deixemos que o próprio Deus cuide dos “Sauls” que existem por ai.


Parte 5 - Porque obedecer?
Obedecer não é fácil, é duro, por sermos uma raça decaída e contaminada pelo pecado inerente a natureza humana, o orgulho e a ambição falam muito alto e nos impedem de nos submetermos. Fácil não é, mas é necessário. Devemos obedecer porque Deus assim ordenou. As autoridades são pessoas que tem muito mais experiência que nós e geralmente já passaram pelo que estamos passando e podem nos aconselhar melhor. Quem nunca desobedeceu aos pais e quebrou a cara? É necessário que vivamos numa hierarquia, alguém tem que dar a última palavra, caso contrário, viveríamos em um caos. Cada um faria o que quer e o mundo não subsistiria nem sequer um dia.


Lembrem-se lideres:

“Não é dado ao líder o direito de não dar bons exemplos”
Luiz Marins, antropólogo empresarial.


Recursos recomendados:

YANCEY, Philip. STAFFORD, Tim. Desventuras da Vida Cristã. São Paulo. Mundo Cristão. 2005.

EDWARDS, Gene. Perfil de Três Reis. São Paulo. Vida. 1987.

domingo, 1 de julho de 2007

Liderança se aprende na vida

Nem livros, nem palestras, muito menos gurus intelectuais. A grande escola para se aprender a liderar é a vida. Pelo menos essa é a opinião de um especialista no assunto, o escritor James Hunter, que esteve no dia 27 de junho no Espírito Santo, para participar do Seminário Internacional sobre Liderança, que teve o apoio da Rede Gazeta, no Centro de Convenções de Vitória. Autor do best-seller "O monge e o executivo", ele afirma que as teorias existentes sobre como ser líder, nada mais são do que repetições de conceitos referentes aos valores e ao caráter, aprendidos no dia-a-dia, na sociedade, com a família, com os amigos, com a Bíblia.
"Há um livro que diz: ‘Tudo que preciso saber aprendi no jardim de infância’. E é verdade. Valores como respeitar o próximo, tratar bem as pessoas, ser honesto, perdoar, fazer o melhor, entre outros valores, tudo aprendemos quando éramos crianças. Acontece que esquecemos e precisamos estar relembrando essas coisas o tempo todo", ressalta.
Para Hunter, há um equívoco em achar que cursos irão formar um líder. "Tem gente que acha que por fazer um MBA vai exercer uma ótima liderança. Conheci pessoas que tinham inúmeros cursos, mas eram péssimos líderes. Liderar é a arte de influenciar pessoas. Fazemos isso o tempo todo. A grande diferença é: você é um líder eficiente? As pessoas estão felizes com sua atuação?", enfatiza.
Para o consultor, a família é a mais importante instituição onde se é possível praticar a liderança. "Existem casais que se comprometem em dar 50% de si para o outro. Está errado. É preciso dar 100%. Na vida corporativa o líder precisa estar 100% comprometido com a empresa. O marido deveria falar para a esposa, ‘Me diga duas coisas que preciso mudar para você se sentir mais amada’ e, para os filhos, ‘Me diga duas coisas que tenho que mudar para ser um melhor pai’. Você irá se surpreender com as respostas. O mesmo dever ser feito com seus liderados na empresa. Pergunte a eles como tem sido a seu trabalho como líder", orienta.
A grande dificuldade, segundo James Hunter, é que para que haja uma melhora na forma de liderar, é preciso que haja mudanças, o que é muito difícil. "Você gostaria de trabalhar para si mesmo? Devemos tratar as pessoas do mesmo jeito que queremos ser tratados. Esse ensinamento foi dito há mais de dois mil anos por Jesus Cristo, o maior líder que já existiu. Para melhorar é preciso mudar e só conseguimos isso com a prática. Cristo ficava chateado não com as prostitutas ou os marginais, mas sim com os doutores da lei que sabiam sobre Deus, mas não colocavam esse conhecimento em prática", analisa.
Caráter . De acordo com Hunter, a maior virtude de um líder é o caráter. O consultor estima que, ao longo do dia, tomamos cerca de 1.500 decisões com base em nosso caráter. E é exatamente ele que nos diferencia dos animais. "Caráter é o que você faz no escuro quando ninguém está te olhando. É quando você atinge a sua maturidade moral. Liderar é o caráter em ação".

É preciso valorizar em vez de explorar

O consultor James Hunter também defende a idéia de que a pior estratégia para liderar é usar a força, a pressão, o poder. Isso é diferente de autoridade. "Minha mãe é bem velhinha. Mas, mesmo eu sendo fisicamente mais forte, ainda assim ela exerce uma autoridade enorme sobre mim. Ela conseguiu isso porque ao, longo dos anos, procurou servir. Quando usamos o poder para forçar as pessoas a nos ajudarem, elas não o farão de coração e, quando chegar o momento, irão embora de nossas vidas. Mas quando exercemos uma liderança servidora, ganhamos autoridade e nossos liderados realizam suas atividades de boa vontade", acredita.
Para o consultor, é fundamental valorizar as pessoas. "Uma vez ouvi Madre Teresa de Calcutá dizer que ‘as pessoas querem mais valorização do que pão’. E olha que ela conheceu pessoas famintas. Os líderes têm que valorizar seus liderados, dar a eles coragem. Gestão é o que você faz. Liderança é o que você é. Gerentes vêem os profissionais do pescoço para baixo, porque estão preocupados com a produtividade. Já os líderes vêem do pescoço para cima, porque se preocupam com as idéias. Podemos mudar. Só melhoraremos se mudarmos. É hora de servir. Nós precisamos dar o exemplo", finaliza.

Conceitos de liderança de James Hunter


  • Aprender no dia-a-dia. Liderança é algo que se aprende no dia-a-dia, na sociedade, com a família, com os amigos, com a Bíblia.
  • Faculdade não forma líderes. Fazer um MBA não garante um bom líder. Liderar é a arte de influenciar pessoas. A grande diferença é se você é um líder eficiente e se as pessoas estão felizes com sua atuação.
  • É preciso estar comprometido. Assim como na família, o líder precisa estar 100% comprometido com a empresa.
  • Perguntar é necessário. O líder deve perguntar aos seus liderados o que eles estão achando de seu trabalho.
  • Mudanças são essenciais. Para melhorar é preciso mudar e só conseguimos isso com a prática.
  • Tratamento VIP. Devemos tratar as pessoas do mesmo jeito que queremos ser tratados.
  • Caráter faz a diferença. Caráter é o que você faz no escuro quando ninguém está te olhando. Liderar é o caráter em ação.
  • Nunca usar o poder. O uso do poder, cedo ou tarde, afasta as pessoas. Mas uma liderança servidora, conquista as pessoas.
  • Valorizar sempre. As pessoas querem mais valorização do que pão.
  • Gestão é diferente de liderança. Gestão é o que você faz. Liderança é o que você é.