Ética e Liderança Cristã: novembro 2015

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Líderes esgotados

Ronaldo Lidório (*)

Estes são dias marcados por líderes cansados, em crises pessoais ou de trabalho, desanimados e frequentemente experimentando “burnout” ou outra sorte de esgotamento. Boa parte dos fatores de risco se encontra na sociedade: pressões externas, demandas sem fim ou enfermidades psicológicas. Outra parte é definida pela atitude de nosso coração.
Em 2 Timóteo 2:11-15, Paulo dá orientações ao jovem líder Timóteo:
“Esta palavra é digna de confiança: se morremos com ele, com ele também viveremos; se perseveramos, com ele também reinaremos. Se o negamos, ele também nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. Continue a lembrar essas coisas a todos, advertindo-os solenemente diante de Deus, para que não se envolvam em discussões acerca de palavras; isso não traz proveito e serve apenas para perverter os ouvintes. Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade”.
As principais orientações de Paulo ao jovem líder não se referem a sucesso, destaque, produção, promoção ou realizações, mas a uma postura do coração. Ele diz “se… morremos…, se perseveramos…, se somos infiéis…” – falando sobre as coisas do coração e não da vida pública.
Paulo ensina que aquilo que nos define não é o nosso trabalho, imagem ou reconhecimento, mas nosso relacionamento com Deus. Não é um título ou reconhecimento público, mas nossa vida com o Pai. Vale lembrar que quem ensinava sobre isto era um homem afeito ao trabalho, um incansável missionário, plantador de igrejas e grande teólogo. Parece-nos que ele compreendeu (e ensinou) que a primeira missão da igreja não é frutificar, mas morrer. Apenas quando morrermos para nós mesmos é que conseguiremos viver para Deus. Por isto, escrevendo aos Gálatas, ele declara: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).
Paulo ensina também que o obreiro chamado por Deus deve se apresentar “aprovado”. A expressão usada para esta aprovação (“Dokimon”) indica “medida completa”; nem mais nem menos. Ser e fazer aquilo que Deus colocou em suas mãos.
Talvez esteja aí a principal fonte de esgotamento entre aqueles que fazem o trabalho de Deus: a necessidade de discernir entre aquilo que Ele colocou em nossas mãos e o que simplesmente nos encanta.

Compartilho a seguir alguns breves conselhos:

1. Tenha clareza sobre o que Deus colocou em suas mãos – aquilo com o qual você deve se envolver e aquilo que, mesmo importante, não lhe compete. Não se envolva com tudo que lhe encanta.
2. Procure ser um modelo de vida, e não apenas de trabalho.
3. Guie-se pela visão que Deus lhe deu, não pelas críticas e muito menos pelos elogios.
4. Identifique os seus pontos de dispersão (aquilo que lhe tira da rota) e aprenda a evitá-los. Preste contas.
5. Lidere pela influência espiritual, e não pela autoridade da sua função.
6. Mantenha-se saudável emocionalmente. Não ande com o tanque vazio. (Leia “Andando com o tanque vazio”, de Wayne Cordeiro).
7. Tenha uma vida de oração e mantenha o equilíbrio entre a reflexão e a decisão. Evite os extremos: ser autoritário ou indeciso.
8. Alimente-se, sobretudo pela Palavra, e imprima em sua alma profundas reflexões cristãs. (Leia O Discípulo Radical, de John Stott; De Hoje em Diante, de Elben César; “O Legado Espiritual”, de James Houston; e “Vocação perigosa”, de Paul Tripp).
9. Seja coerente e consistente com suas convicções. Não negocie sua integridade, por mais alta que seja a proposta. (Leia “Dinheiro, sexo e poder”, de Richard Foster).
10. Invista em outros líderes, fazendo discípulos – não seus, mas de Cristo.

Que o Altíssimo nos ajude a termos nossa identidade definida em Cristo, a fazer tudo (e tão somente) o que Ele colocou em nossas mãos e sermos encontrados aprovados – por Ele.

(*) Ronaldo Lidorio é doutor em antropologia e missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e da Missão AMEM. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.

Publicado em Ultimato


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

4 erros que você não pode cometer na divulgação dos eventos de sua igreja

Alguma vez você já planejou e executou exaustivamente um evento só para ter 15 pessoas aparecendo na sua igreja? Que decepção, não?! Mesmo que eu acredite que a qualidade é sempre melhor do que a quantidade, ver um grande número de participantes nos encoraja e, de certa forma, nos ajuda a continuar dando nosso melhor a Deus. Seu instinto inicial pode até ser o de decidir por não mais manter o mesmo evento no futuro, pensando que há uma grande falta de interesse, dentro do corpo da igreja ou de seus visitantes. Mas, por acaso, você já parou para pensar que os métodos de “marketing” utilizados podem ter sido o seu real problema? Aqui estão alguns erros que eu e você poderíamos ter cometido e que, se melhorados agora, podem fazer com que o seu próximo evento seja um sucesso altamente concorrido e de extrema qualidade.

1. “Vender” o Evento
Isto pode até soar absurdo, ou contraditório, mas me ouça. Ao promover o seu próximo evento, não faça apenas uma venda sobre o evento. Faça uma publicidade sobre o benefício que o evento trará aos participantes. Eu aprendi que as pessoas só participam verdadeiramente de um evento quando elas sabem que há algo para elas mesmas nele. Não digo de forma egoísta ou interesseira. Aqui está um exemplo para explicar. Ao criar o seu flyer, e-mail, cartaz, landing page ou site específico para a EBD dos próximos meses, não use o título “Escola Bíblica Dominical (ou Discipuladora)”. Em vez disso, faça uma mensagem como: “Uma maneira divertida e séria de sua família aprender mais sobre determinado tema bíblico e a se conectar com Jesus neste semestre!”. E, em seguida, mostre ou evidencie a EBD e todos os seus respectivos detalhes. Neste exemplo, o primeiro título está tentando “vender” o evento e só explica o que ele é. Mas a segunda mensagem faz o trabalho de dizer por que alguém deveria participar ou no mínimo querer participar dele. E isso é o que realmente conecta, impulsiona e encoraja o desejo de alguém em ser parte do seu evento.



2. Ser inconsistente
Um princípio fundamental de qualquer publicidade ou marketing é ser consistente em todas as campanhas relacionadas. Mas, muitas vezes, nós não dedicamos o tempo necessário para planejar a devida divulgação do evento da igreja e acabamos por criar comunicações aleatórias e desconexas que trarão confusão. Nossa cultura parece preferir pelos chamados fazedores e, quase sempre, intitula os planejadores de metódicos, perfeccionistas ou medrosos. Cuidado, não se deixe enganar, essas pessoas devem andar junto com você sempre. Elas lhe ajudarão muito, se você for um fazedor viciado e contumaz (como eu! Hehe). Ao planejar as comunicações que você vai fazer em torno de seu evento, olhe para ele como uma campanha publicitária e elabore um plano que irá ajudá-lo a explicar claramente os detalhes do evento. Um a um. Em seu plano, debata um tema com muito brainstorming (explicaremos como em nossos próximos posts) e fique com o tema que surgir e encorajar/empolgar a todos. Escolha um título ou um slogan para o seu evento, selecione uma imagem-tema e escolha uma fonte e cores. Leve estas características de design e de texto ao longo de cada passo e veículo que você for utilizar para anunciar o evento. Além disso, crie um cronograma. Assim você saberá quando enviar e-mails, cartazes, vídeos, postar em seus canais de mídia social ou promover o evento em seu site! Essa atitude traz consigo um bônus: uma vez que você tenha um bom cronograma construído (ao longo de vários eventos você acaba adquirindo um know-how de como fazê-lo conforme suas peculiaridades), você poderá repeti-lo para muitos eventos futuros. Afinal, não se mexe em time que está ganhando.

3. Perder seu público-alvo
Em tempos passados (e, ainda, em algumas igrejas atuais) havia boletins e anúncios pessoais do púlpito, duas maneiras básicas para se comunicar os acontecimentos de uma igreja. Mas, estes dois métodos só funcionam (ou funcionavam! Hehe) se as pessoas estivessem sentadas nos bancos e atentas às informações, não? O garoto que foi buscar água ou o atrasado de carteirinha não ouviram ou ouvirão. Atualmente, nós possuímos toneladas de outras opções para alcançar nossos “freqüentadores”, meios que estão disponíveis a cada hora de cada dia e em todos os momentos e lugares. E-mail, sites, mídias sociais, aplicativos e mensagens de texto foram aumentando nossas oportunidades de se conectar e divulgar constantemente. Defina seu público e tente usar cada uma destas fontes de publicidade e ver quais as que funcionam melhor com a sua igreja e evento. Você pode optar por várias formas de comunicação para que o seu evento possa chegar a um número maior de pessoas, mas certifique-se de que você esteja (e fique) consistente sempre!

4. Não fazer o dever de casa
Pastores e líderes, eu lhes imploro, por favor façam o dever de casa. Passe algum tempo com sua idéia, evento, tema; deixe-os cozinhar e revirar no seu cérebro por alguns dias (pelo menos!). Leia tantas fontes secundárias quanto você puder ter acesso sobre o seu tópico, leia, leia mais um pouco, e depois, leia um pouco mais, sobre comentários e críticas, ouçam músicas relacionadas e assistam a filmes, peças e “sketches” sobre a idéia central ou temática do seu evento. Você nunca deve planejar um evento no dia (ou semana) anterior ao da de sua execução. Você não estará fazendo justiça ao seu evento e esforço, nem mesmo dará espaço para que Deus se comunique com e através de você. Estar à frente de seu evento não significa apenas liderar, planejar e executar, é estar na frente dos problemas, percalços e variantes que só vemos ao fazer a lição de casa (por pelo menos uma semana antes!). Isto lhe permitirá ter tempo suficiente para fazer ajustes, edições e cortes em áreas que simplesmente não funcionariam.

Publicado em Conversão Digital