Servindo como ao Senhor: desafios do trabalho voluntário
Lúcio César Menezes
Boa parte do trabalho desenvolvido por instituições eclesiásticas se deve à participação direta de voluntários, seja na condição de membros ou congregados.
Os líderes remunerados são responsáveis por equipar os voluntários, motivá-los e dar-lhes as condições necessárias para trabalhar.
Estimula-se a participação do leigo, considerando o serviço uma oportunidade de contribuir para o bem estar de outras pessoas. Evita-se, assim, a visão distorcida de que tudo deve ser feito pelos líderes remunerados, restando aos demais mera presença aos atos litúrgicos e reuniões sociais.
O trabalho voluntário traz vantagens inegáveis. Para o voluntário e para a organização.
O voluntário tem a oportunidade de exercitar qualidades e habilidades que servirão para melhorar seu desempenho em sua área profissional, em seu trabalho.
Assim, ser voluntário lhe garante agregar verdadeira requalificação profissional, acrescendo capacitações e reforçando ou lapidando habilidades já existentes.
Essa percepção nem sempre está presente. O resultado é que as pessoas deixam de ser voluntárias por só conseguirem ver dificuldades e desvantagens. Pensam que o serviço voluntário somente desgastará suas forças.
Bem ao contrário, a percepção correta poderá ser um motivador importante para que outros se associem.
Por exemplo, há um claro e inegável incentivo ao trabalho em grupo. Aprende-se a lidar com a diversidade de opiniões, de experiências e de formação acadêmica e cultural. A ligação da equipe não é pela força de cargos ou hierarquia, mas pela visão compartilhada e pelos desafios.
Além disso, força-se a flexibilização de instrumentos de trabalho, incentiva-se a criatividade, as novas idéias. O trabalho voluntário abre espaço para quebras de paradigmas e ajuda a liberar a mente de soluções restritivas.
Finalmente, a escassez de recursos é um parâmetro a induzir as pessoas a buscarem alcançar as metas da forma menos onerosa.
Não há empresa que não se beneficie de empregados que desenvolvam as qualidades antes citadas. Não admira o grande incentivo que tem sido dado a iniciativas neste sentido.
A organização também se beneficia, pois o maior número de pessoas integradas à visão e interessadas no cumprimento das metas é uma vantagem inegável para a consecução de seus objetivos.
Mas nem tudo é perfeito no mundo do trabalho voluntário. Há problemas que, ainda que superáveis, cobram tributo se não bem administrados.
Pesquisas na área destacam cinco problemas principais:
1. Absenteísmo: a ação começa com muitos voluntários e, paulatinamente, o número de ausências vai aumentando até inviabilizar o projeto. Como não há sanções, a desistência se dá de forma freqüente.
2. Falta de pontualidade: menos grave que o anterior, mas ainda capaz de comprometer a qualidade do projeto. Não há ponto a ser cortado, não há emprego a perder, pode-se chegar atrasado sem problemas. As pessoas “terão que compreender”, afinal, já estou fazendo um favor em comparecer.
3. Qualificação para o trabalho: não basta ser voluntário, é preciso ter qualificação para o serviço. Há um limite para a redução do nível de exigência, sob pena de os objetivos não serem alcançados. Por outro lado, nem sempre há recursos e condições para que a organização treine e capacite o voluntário. Mais grave ainda, não há qualquer garantia que o voluntário vá permanecer com a organização.
4. Disponibilidade: os compromissos pessoais e profissionais são prioritários e, muitas vezes, se interpõem à frente do serviço voluntário. A disponibilidade das pessoas é instável, gerando insegurança e falta de continuidade. Vai quando pode e do jeito que pode.
5. Avaliação de desempenho: a condição de não ser empregado e de o vínculo ser de ordem voluntária dificulta a avaliação de desempenho e a apuração se as metas estão sendo alcançadas. Compromete, assim, a descoberta de ações que poderiam ser implementadas para melhorar a qualidade do serviço prestado. Há o medo de as pessoas deixarem a organização por não concordarem em se submeter a avaliações.
Combinando-se as vantagens e os problemas relacionados ao serviço voluntário é preciso estabelecer as qualidades que os líderes devem ter para que as organizações sejam bem sucedidas.
Em primeiro lugar temos a persistência. Os que se abatem diante dos problemas e dificuldades não têm perfil para liderar voluntários. É necessário olhar à frente, sob pena de sucumbir diante das dificuldades diárias.
Em segundo, a conciliação ou flexibilidade. O líder deve ser sensível para contornar conflitos. Deve buscar a criação de um ambiente de tranqüilidade e harmonia, levando as pessoas a se “sentirem bem” na organização. Solidariedade é a palavra-chave.
Terceiro, deverá ser comprometido. As pessoas têm que perceber uma profunda ligação do líder com a organização ou projeto.
Pesadas as vantagens e as dificuldades do trabalho voluntário, penso que é a melhor forma de organizações eclesiásticas funcionarem. As pessoas são incentivadas a servirem uns aos outros, passando a ser atores no crescimento da organização.
Cumprem a orientação bíblica de que a principal função pastoral é capacitar os “santos” para a prática do ministério. Dão oportunidade, também, para que as pessoas coloquem em prática o(s) dom(ns) recebido(s) e sirvam à comunidade.
Se você já está servindo voluntariamente, aproveite para reciclar sua visão e perceber que há vantagens em servir.
Se você só conseguia perceber as dificuldades, espero que as idéias aqui expostas possam levá-lo a rever conceitos e a experimentar o voluntariado.
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