Ética e Liderança Cristã: Liderança cristã e adoração

segunda-feira, 10 de março de 2008

Liderança cristã e adoração


Marcelo Gomes


Publicado em 05.12.2007

“Adorar, que traduz crer, traduz também que a diferença de natureza entre o crente e Deus permanece um abismo infinito” (Kierkegaard)

Moisés cresceu entre palácios e divindades. Aprendeu a cultura e a religião egípcias. Foi treinado em suas artes, ciências e filosofia. Viu a grandeza da nação que habitava a partir do centro do poder. Acostumou-se à riqueza e ao brilho de uma vida sem privações.

Aos quarenta anos, seu mundo desabou. Seu poder tornou-se sua ruína. Matou um egípcio e transformou-se num fugitivo. Refugiou-se no deserto. Virou um “Zé Ninguém”. O glamour do convívio com a nobreza deu lugar à companhia de um gado alheio. O único brilho que lhe resplandeceu ante os olhos foi o de uma sarça que ardia, mas não se consumia. Foram outros quarenta anos.

Deus tirou Moisés do Egito, mas queria tirar o Egito de Moisés. Mostrou-lhe, com a experiência do deserto, que a vida de um homem não consiste da abundância de bens que possui. Tomou-lhe tudo, para dar-lhe o principal: uma oportunidade de adoração. Sua missão seria mais que tirar um povo da escravidão; deveria conduzi-lo ao encontro com Deus: “este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte”. O sinal não seria o sucesso do empreendimento, mas sua consagração ao Deus que chama e envia.

O desafio da liderança cristã passa por esta percepção da razão final de todas as nossas realizações: glorificar a Deus. Num mundo pragmático, em que as coisas que dão certo têm maior valor que aquelas que são certas, a liderança cristã reassume os princípios do reino de Deus como regra absoluta para um serviço que o agrade. Num mundo utilitário, em que valores e princípios vigoram enquanto úteis, a liderança cristã abraça a verdade da Palavra Eterna como base sobre a qual constrói o que Ele mandar.

O líder cristão é acima de tudo um adorador. Ser líder é sua função; adorador é sua essência. Sabe que Deus procura adoradores, que o adorem em espírito e em verdade. Sabe que líderes auto-centrados, encantados com o brilho de suas próprias existências, fascinados pelo poder de seus próprios recursos, podem até desempenhar boas tarefas, mas jamais refletirão a glória de Deus. Podem até ser adorados por seus seguidores, mas nunca os fará desfrutar a beleza da santidade do Senhor. Nunca desfrutará por si mesmo. Será um prisioneiro de sua própria ilusão.

Moisés foi chamado para levar um povo a cultuar: “irás, com os anciãos de Israel, ao rei do Egito e lhe dirás: o Senhor, o Deus dos hebreus, nos encontrou; agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor, nosso Deus”. Precisou descer às profundezas da humilhação, sem palácios ou ídolos, para descobrir que o Deus do céu não habita em obras de mãos humanas. Sua majestade não está na riqueza de seus templos, mas na identificação com os oprimidos pelos impérios mundanos, para fazê-los povo exclusivo e propriedade particular. Comunidade de adoradores.

Em Jesus Cristo a missão de Moisés encontrou sua plenitude. Jesus é superior a Moisés. Seu sacrifício na cruz foi mais que o cumprimento de uma tarefa; foi sua entrega em submissão e amor ao projeto do Pai, para que o Pai fosse glorificado no Filho. Como nos lembra Moltmann: “a realeza do Deus uno e trino não se espelha nas coroas dos reis ou no triunfo dos vencedores, mas sim na face do crucificado e na face dos oprimidos, dos quais ele se tornou irmão”.

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site www.institutojetro. com.

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