Ética e Liderança Cristã: Sacrifício Vivo

sexta-feira, 23 de março de 2007

Sacrifício Vivo

Sacrifício Vivo
Publicado em 17/11/06 às 22:27
Por: Rubem Amorese

Os ministros de louvor e adoração são pessoas especiais. Muitos deles não sabem disso e pagam alto preço. Temos visto a ascensão e queda de muitos. Em especial nestes últimos anos, marcados pelos conjuntos musicais jovens e pela progressiva abertura de espaço na liturgia das igrejas para o chamado "ministério de louvor". Quando caem, não perdem apenas seus postos ministeriais. Comprometem também família, igreja, irmãos, amigos. E não são muitos os que conseguem restaurar seu sacerdócio.

Esse paradoxo começa a chamar a atenção. Parece um fenômeno digno de estudo, pois a sensação que se tem, tanto no meio evangélico, mais visível, quanto no católico carismático, é a de que os casos se multiplicam. Ao mesmo tempo em que igrejas chegam a se notabilizar por essa ênfase litúrgica, contando com estrelas de fama internacional, graças à TV, à indústria fonográfica e, agora, ao DVD, cresce a legião de "anjos caídos".

Lembram um pouco a triste história de pastores famosos e "eletrônicos". E talvez tenham em comum a excessiva exposição da vida pessoal e familiar, e as armadilhas do carisma, da fama e do poder.

Esses novos ministros requerem especial atenção porque habitam na dimensão das emoções. A missão de criar e oferecer a Deus o "belo" requer um constante recurso às linguagens da emoção. O louvor nasce na alma e se expressa poeticamente. Por sua índole e função, o ministro-artista conduz-se por percepções e expressões apaixonadas e é moldado por elas. Eis sua força e fraqueza, ao mesmo tempo.

Se pudesse ministrar a essas pessoas especiais, eu lhes recomendaria considerar o texto de Rm 12, 1 e 2, onde Paulo pede a oferta de um culto integral, regido pelo elemento racional, que redundará em um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. O detalhe, para esses apaixonados, seria o elemento cognitivo: "...e de todo o teu entendimento", acrescentaria Jesus ao texto integralista de Deuteronômio 6.

Entendimento não se resume a conhecimento bíblico. Refere-se também a inteligência emocional. É o elo de ligação entre a adoração e suas múltiplas conexões com a vida. Conecta o céu com a terra; o domingo com a semana; o sagrado com o profano. Na liturgia, ele liga a arte à sua função, não permitindo que a emoção "engula" a celebração, ou destoe dela, por trazer elementos não harmônicos com o culto. No âmbito pessoal, é o entendimento que garante integridade ao adorador. Este se sentirá interiormente desmoralizado se, "ao trazer ao altar a sua oferta", lembrar-se de pecados não confessados, de ressentimentos não tratados, de perdão retido, de vida impura, de família negligenciada.

Mas poderia ser pior. Ele poderia ter "subido tão alto" que sua consciência, sem entendimento, já não o livraria, não acolhendo as oportunidades do Espírito de sanear sua vida, de forma a oferecer uma consciência limpa ao seu Senhor.

O profeta-poeta é uma pessoa especial porque montou seu "escritório de trabalho" num campo de batalha espiritual, onde sua ação enfurece a principados e potestades. O inimigo o acusará de incoerência, interesse, medo e falsidade. E pedirá a pena máxima: a desqualificação de sua oferta e liderança (Zc 3,1).

A esses apaixonados, o "entendimento" parece atrapalhar, inibindo o que poderia ser um louvor "extravagante". Mas a eles eu lembraria a recomendação ao sumo sacerdote Josué: "Se andares nos meus caminhos, e observares os meus preceitos, também tu julgarás a minha casa, e guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso entre estes que aqui se encontram" (Zc 3, 7).

E eu diria a esse sacerdote (e a todo adorador): é com diligente entendimento que você se manterá em "seus caminhos" e observará os "seus preceitos". Isto é "sacrifício vivo". Dar-lhe-á longevidade ministerial e livre acesso àqueles que habitam nos lugares celestiais.



Rubem Martins Amorese é Presbítero da Igreja Presbiteriana do Planalto - DF, consultor legislativo no Senado Federal e autor de vários livros, como 'Icabode - da Mente de Cristo à Consciência Moderna', e 'Meta-História'.
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