Ética e Liderança Cristã: Como Avaliar Um Líder Espiritual | Rev Misael Nascimento

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Como Avaliar Um Líder Espiritual | Rev Misael Nascimento

No artigo “Sobre a Incompetência Pastoral”, refleti sobre alguns aspectos gerais do ministério pastoral e falei rapidamente sobre avaliação de líderes. Essa é, ao meu ver, uma das questões fundamentais tanto para pastores quanto para igrejas. Como avaliar corretamente alguém que serve no ministério cristão? O que deve ser considerado para não incorrer-se na irresponsabilidade (total ausência de avaliação) ou precipitação (avaliação injusta de um líder)?

Tudo começa a partir de uma constatação: O ministério cristão possui nuanças singulares. Isso porque ele possui dois aspectos. Um deles é concreto. Eu o denomino modelo de Lucas, pois pode ser percebido no livro de Atos, escrito pelo médico evangelista. Lucas é o homem dos números. A partir de seus registros objetivos, percebe-se que o trabalho crescia (At 1.15, 2.41, 4.4). Em minha opinião, isso legitima as estatísticas, os relatórios que verificam resultados concretos. Se o trabalho de um obreiro não produz frutos, soluções devem ser buscadas.

O segundo aspecto do ministério é intangível, o modelo de Jeremias. O profeta pregou e ninguém converteu-se; ele morreu sem ver o fruto de sua pregação. Observe-se, no entanto, que Jeremias é contado entre os principais profetas do Senhor (Mt 16.14). Nesse sentido, o ministério não é um negócio, é totalmente diferente de uma empresa. Eu trabalhei por dezesseis anos na iniciativa privada e assumi funções de chefia e gerência. Ganhei prêmios por excelência em atendimento e resolução de problemas de clientes. Durante anos, fui movido a resultados. Entrei no ministério e fiquei chocado. Percebi que na igreja as coisas são diferentes; o ministério trata com os mistérios do Senhor; o ministério pode ser excelente para Deus, cumprir exatamente o propósito de Deus e parecer improdutivo para os homens. Na iniciativa privada ou no setor público o profissional pode ir pra casa sentindo que realizou um bom trabalho, mas, no ministério, todos os dias se dorme com a plena convicção que não foi feito o suficiente e o que foi realizado ficou aquém do desejável. No ministério somos convencidos pelo Espírito Santo de nossa completa nulidade e inadequação — todos os dias. Esse é o coração da experiência pastoral.

Com isso, desejo afirmar que há coisas no ministério que são absolutamente intangíveis, não podem ser avaliadas devidamente por homens. Há madrugadas insones, fadiga física, mental, intelectual, emocional e espiritual. Há lágrimas derramadas em oração, lutas, angústias, amarguras de alma, pressões do espírito e uma solidão de liderança que não podem ser devidamente articuladas em palavras, que decorrem normalmente do trabalho com a igreja e que dizem respeito somente ao obreiro e ao Senhor. O apóstolo Paulo descreveu isso:

Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas; por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo (2Co 6.4-10).

Essa é a realidade intangível, semelhante às experiências de Jeremias, o excelente obreiro que não tinha como apresentar um relatório estatístico com listas de “convertidos”.

Observe-se ainda que é preciso avaliar, medir, quantificar, mas toda averiguação deve ser levada adiante com sensibilidade à voz divina. Avaliações podem positivamente sinalizar obediência e cuidado amoroso ou, negativamente, insegurança ou autonomia pecaminosa. Deus ordenou a Moisés que levantasse o censo em Israel (Nm 1.1-2). Naquele contexto, o levantamento do censo era uma averiguação pertinente, que correspondia ao coração de Deus para organização do povo. Em outra ocasião, Davi resolveu realizar outro censo, mas a Escritura afirma que ele foi incitado por Satanás. Por causa daquela precipitação, morreram setenta mil homens (1Cr 21.1-17). Aparentemente Moisés e Davi fizeram coisas semelhantes, levantaram censos. A diferença estava na origem das motivações, Deus ou Satanás, e no resultado da ação, bênção ou castigo.

Duas últimas observações acerca de avaliações no âmbito do ministério. No meio empresarial, toda atividade tem por objetivo o aumento do lucro decorrente do crescimento do volume de negócios. Para que isso ocorra, é fundamental a satisfação dos clientes. Empresas são focalizadas em clientes e executivos de empresas permanecem ou são demitidos em virtude dessa satisfação ou insatisfação. É preciso lembrar que igrejas não são empresas e membros de igrejas não são clientes. Líderes espirituais não são estabelecidos para agradar ou satisfazer os desejos das pessoas da igreja e sim para fazer valer a vontade do Senhor. Igrejas refletem não uma democracia, mas uma teonomia. Isso significa que os ministros devem ser avaliados à luz dessa pergunta: “Este obreiro está encaminhando a igreja no conhecimento do Senhor e nas coisas do reino?” Esse é o ponto.

Finalmente, penso que é pertinente o que escrevi há alguns meses, no artigo intitulado “Sobre a Incompetência Pastoral”. Leia-se como uma referência a qualquer obreiro remunerado de igrejas.

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